terça-feira, 18 de outubro de 2011

UM DEDO DE PROSA

—Quer um dedo de prosa, Rospo?
—Que é isso? É muito pouco!
—Que papo é esse, meu amigo? Estou sem tempo. Sabe que quando tenho tempo é uma légua de prosa, agora, infelizmente é só um dedo de prosa. E um dedo de prosa dá até para ouvir um "causo". Que mais queria, meu querido? No que está pensando? Em biscoitos de polvilho? Em licor de anis? Em...
—Eu? Não, quer dizer. Um sorvete ia bem.
—Eu sei, meu amigo. Mas agora, neste momento, devido ao fato de que estou mesmo sem tempo, só temos um dedo de prosa.
—É que uma sapa assim vem falando de um dedo de prosa já fico meio frustrado. Num dá nem tempo de elogiar o vestidinho. E você sabe, isso faz parte.
—Eu sei, Rospo, mas está muito pedinte hoje.
—Só quero prosear.
—Compreendo, conheço sua conversinha, seu papinho, quando começa com essa lenga-lenga.
— !
—Ei, fique jururu não, fique não acabrunhado,  estou só brincando.  Quem tem um dedo de prosa na pressa, sabe que tem um mundo em si, e quando o tempo for de se esbaldar, a prosa vai prosear até ficar de mel e garapa no coração.
—Sapabela, boniteza de qualquer ângulo.
—Rospo, não se avexe! Deixe de lado o que causa tristeza e siga, que sabe tanto quanto eu: prosa prende e causa encanto, e quem fica no encantamento só quer prosear.
—Está certo, minha amiga. E com você aprendi...
—Aprendeu, Rospo? Diga o que é, que quero saber.
—Aprendi que um dedo de prosa com uma prisioneira do encanto já vale léguas e léguas de espera. E  se um dedo de prosa parece pouco pra dedéu, só parece, pois o pouco, no caso, é um conceito abstrato de quem não aprendeu a valorizar as coisas que realmente são.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 693
Marciano Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog