sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

FORÇA PERMANENTE NA POEIRA DAS RUAS

Ainda nos respingos do orvalho, Sapabela na calçada, polvilhada de sexta-feira, alvorece na gratidão de sua essência, quando encontra o velho amigo.
—Rospo! Sua chegada me faz pensar de imediato na felicidade dos gibis antigos.
—Pegou isso, Sapabela?
—Sua pergunta surge como uma flecha ligeira. Não peguei, cheguei um pouquinho depois, mas penso nos meninos que cresciam nas páginas de nanquim. Que felicidade um lago de nanquim aguada!
—Sapabela, reparo que também valoriza as coisas que necessitam de preservação.
— Uma canção portuguesa...
—A amizade...
—Aparelho de som na sala...
—Sapabela, não entendi! O que tem a ver o aparelho de som na sala?
—Tudo! O aparelho de som, batizado em cada época com um nome específico, como vitrola, toca-cds, e outros, resgata o gosto da família e dos amigos de ouvirem Música.
—Os sapos continuam ouvindo Música, Sapabela.
—Cada qual na sua. A época do individualismo foi instaurada. A solidão foi engendrada. Está presente no mundo contemporânea de forma espantosa. Sapo entra numa Rede Social e se conecta com centenas e centenas de amigos, mas ouve as suas canções sozinho, diante do computador, e agora, mais recentemente, no laptop, quando então a solidão amplia consideravelmente o seu espectro. Sapos e sapas estão passando por uma transição. Alguns já sentem os benefícios da solidão numa multidão.
—Entendi. Amigos, amigos, amigos, mas os sapos estão cada vez mais sozinhos! Será que nenhum escapa?
—Claro que sim. Tem ainda uma rede social na poeira das ruas, na claricelização das tardes de vidro.
—Que palavra é essa,Sapabela?
—Sei não. Pensei em flor de lis. Não sei ao certo. Quando terá começado esse processo de solidificar a solidão na alma do sapo? Quando terá ele sentido o gosto de ser solitário numa multidão?
—Talvez o advento do Vídeo Cassete. Não parei  para pensar sobre isso.
—Rospo, uma coisa posso afirmar. Sou sua amiga até em pensamento.
—Estamos protegidos, não é?
—Sim, na Rede da poeira das ruas.
—Sapabela, ainda não tem nada que se compare a uma caminhada sob o sol. Como já disse um baiano, "A coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o Sol".
—Com versos contemplamos e homenageamos a nossa amizade.
—Sempre, Sapabela. Como sabe, algumas coisas passam, outras permanecem.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 731
Marciano Vasques

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