domingo, 25 de dezembro de 2011

O ALVOROÇO ALVORECE

—Dia alvorecendo, Sapabela! Acorde!
—Rospo, alvorecer é nada mais que trazer ao bojo da vida o alvoroço do dia, em plenitude e beleza, nos  indissolúveis fios que unem fiapos de astros ao azul miosótis que rompe o concreto dos corações ásperos. É o alvoroço do pardal que voa, das folhas orvalhadas, no sol que goteja desbloqueando o nevoeiro das alturas.   Também o seu alvoroço que me liga agora de madrugada.
—Madrugada? São quase dez e meia da manhã! Deixe a sonolência, vá até a torneira, pingue 2012 gotas de água em seus olhos e pule para a alegria de um novo dia. Dádivas não podem ser desperdiçadas. E aproveite que o dia não está nada "High Tech", aliás, está bem sereno, de barco azul nas águas espumosas...
—Rospo, já está me poetizando o dia. Lá vou eu, mas apenas algumas gotinhas. Como está a aproximação do novo ano?
—Tudo de bom. Sapabela. Feliz IPVA! Feliz IPTU!...
—Rospo, não me faça rir, ou melhor, faça. O dia está bom mesmo, assim, tipo Barcelona?
—Menina!...
—Você parece arte, Rospo! Não arte olvidada em museu ou catálogo, e sim arte viva, para se ver na praça. Será que um dia os pintores ocuparão as praças da cidade, Rospo?
—Como foi a sua insensata fúria dos sons na noite natalina?
—Entendo...
—Quando diz que eu pareço arte, demonstra que já lavou os olhos na torneira com um oceano.
—Convencido. Entretanto, quero dizer algo. Você é muito arteiro.
—Sapabela, saia logo para a rua! O dia já começou.
—Hoje tem cinema, amigo?
—Não falei que o dia já começou? Tem cinema, sorvete, andar de mãos juntas, gargalhadas. Seremos os cataventos da cidade.
—Na alegria de catar os ventos que bailam.
—Venha logo, vamos a um café expresso.
—Pode esperar um pouco? É só pôr o vestidinho...
—Yupiiii!
—Tome jeito, Rospo.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 747
Marciano Vasques

Um comentário:

Pesquisar neste blog