quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O PRESENTE DOS PRESENTES

—Rospo, já foi ao shopping comprar presentes?
—Ainda não. Irei amanhã.
—Já sei. Amanhã é quinta, e também dia 22. Seu dia preferido da semana e seu número predileto. Posso dizer uma coisa?
—Sempre pode, Sapabela.
—Não se consegue nem andar de tantos sapos. Deve estar um sufoco.
—Nem ligo para isso.
—Não se incomoda com o aglomerado?
—De forma alguma, Sapabela. Tomara que esses sapos todos possam comprar seus presentes.
—Sabe que não é assim, Rospo. Muitas crianças ficarão de fora do Natal. Rospo: qual o melhor presente para uma criança? Depois de um livro infantil, claro.
—Estar com ela, Sapabela. Presente na vida dela. Com generosidade, palavras suaves, firmeza de propósito, ofertando sempre a sua segurança, o seu aconchego, a sua ternura. Seja você o aprendizado dela.
—Sem palmadas, não é?
—Sapabela, você estando presente na vida de uma criança, pra valer, já é um tempo tríplice.
—Verbalize, Rospo.
—Ao narrar histórias para a criança, você resgata para ela o passado, que se presentifica através do "Era uma vez" que é para sempre. Estando presente em sua vida, a remete ao futuro de seguro cais.
—Interessante! Você presente jamais será um presente descartável.
—Com sua presença  ensinará as virtudes, que representam o eterno tesouro.
—Pode falar de alguma?
—Está me explorando, Sapabela.
—Gosto de ouvir a sua voz.
—Algumas virtudes o tornam o mais especial sapo na vida de uma criança, mesmo que ela não perceba. E você ganha o dia, ganha todas as manhãs. Quando ensina com seu exemplo que jamais devemos nos sujeitar à submissão, que nunca devemos nos submeter aos caprichos da inveja e do ciúme, isso é um inexorável tesouro, indelével num coraçãozinho. Mais ainda: que o racismo é um mal gigantesco, de estragos que se alastram na alma de alguém, causando sofrimento e dor, envergonhando a humanidade dos sapos, e que sempre, contra ele todos devem lutar. Que nada é mais prazeroso nem gratificante que a lealdade e a sinceridade ao amigo. Sapabela, a lista de virtudes é longa.
—Ainda de quebra ensina as virtudes doces.
—É?
—Sim. O doce de abóbora, o sorvete, a rabanada...
—Verdade, Sapabela. Também a música, o desenho, as cores da aquarela, a poesia, a cantiga, a dança...
—Rospo, é um trem repleto de cores, de pirulitos, de algodão doce que segue numa infinita ferrovia.
—Exato, Sapabela. O ensinar é uma gota de mel. A criança só aprende feliz.
—Rospo, será que temos mesmo que ensinar?
—Essa é a grandeza máxima da humanidade dos sapos. Se a criança devolve a jovialidade, a alegria de viver, o colorido da vida, o adulto tem a rara oportunidade de ser o guardião das virtudes e de mostrar a ela, de passar para ela o  rico e exuberante mundo que é uma vida virtuosa.
—Pois é ela que prosseguirá com o mundo.
—Parece mágica, mas é simplesmente vida. O mundo tem dois donos, que necessitam da experiência e do conforto dos que estão rumando para o porto.
—Nossa! Que eufemismo! Que dupla de donos é essa?
—A criança, e o jovem. Por isso acertamos ao "ensinar" as virtudes.
—Somos privilegiados, Rospo. Mas essa visão esbarra em algo.
—Sim?
—Tem crianças abandonadas, sapinhos maltratados, menores maltrapilhos, crianças apanhando, pequenos soltos e perdidos na cidade, e tanta violência, tanto abandono...
—Viu como fazemos falta?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 740
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. "Você presente, jamais será um presente descartável...Seus livros e ensinamentos enriquecem a vida!
    Luz!
    ana

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