quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A PAIXÃO PELA BELEZA APENAS

—Rospo! É feliz realmente?
—Uma autêntica pergunta sapabélica.
—Que precisa de resposta.
—Considero-me o mais feliz sapo do brejo.
—Já se apaixonou?
—Já fui prisioneiro das ilusões, já me apaixonei pelo rosto, já utilizei as palavras fora da literatura e da poesia para seduzir. Isso tudo faz parte de um crescimento.
—Rospo, apaixonar-se pelo rosto é também apaixonar-se pela beleza. Isso não é válido? A beleza não é fundamental?, como disse um "poetinha"? Mesmo quem, como você, é tão rigoroso, não comete às vezes o deslize ou o engano de se deixar levar pela sedução de um rosto?
—A beleza é sim fundamental, mas quando ela desperta paixão por si mesma, e permanece apenas nela, é complicado. Sim, podemos nos deixar levar; somos frágeis, ou melhor, anfíbios. Mas o importante é corrigir. Além do mais, se fôssemos nos apaixonar apenas pelo rosto de alguém, já pensou? O que no mundo mais tem são sapas belas.
—Conheço muito bem uma, Rospo! E garanto que vale a pena.
—Eu aposto.
—Sobre a paixão pela beleza apenas, eu compreendo. Ela deve pertencer a um conjunto. Estou me referindo a beleza do sapo ou da sapa. Claro que uma obra de arte nos deixa pela beleza apaixonados. E o amor, Rospo?
—Ergue-se além da hipocrisia. Dizem alguns que  essa invenção do sapo é apenas para camuflar aquilo que realmente interessa. Sobre a arte, embora cause essa impressão de que apaixona apenas pela beleza, o que mais tem força é o conteúdo.
—Pode esmiuçar, por favor?
—Um quadro pode realmente, de imediato, nos apaixonar pela sua beleza, mas tem algo nele que está além. Uma pintura é muito mais do que apenas a beleza. Sobre o amor, ele é, em si. Não surge apenas para camuflar, ou disfarçar o que realmente os sapos e as sapas querem...
—Sapos e Sapas sentem imenso prazer em serem entre si, porém, o amor que-se-diz pode ser o que realmente se sente. Vive fugindo, não é, Rospo?
—Não é bem assim, Sapabela. Até andei em busca do amor.
—Entendo. Mas, sobre a questão de corrigir quando nos deixamos levar pela paixão da beleza externa, apenas?
—Isso vai de cada um, Sapabela, parte da necessidade de cada um.
—Quando além da beleza do rosto tem a palavra escrita, o verbo poético, o que me diz? Não é um adicional que pode ser decisivo?
—Nesse conjunto que a coisa começa a complicar.
 —Sabe, Rospo. Quando, brincando, digo que você não toma jeito, na verdade, estou apenas me divertindo com algumas confusões que para si produz.
—Compreendo, Sapabela. Todavia, além da sua amorosa brincadeira, tem algo que realmente é verdadeiro.
—Diga, meu querido amigo.
—Eu não tomo jeito mesmo.
—É o melhor amigo que uma Sapabela pode ter, Rospo. Alguém que pelo menos eu conheço e posso garantir que merece a plena confiança.
—Sapabela, você me comove. Quer saber de algo?
—Quero!
—Preciso convidá-la para...
—Aceito!
—Nem falei.
—Se não for uma coisa será outra, Rospo. E desconfio que o convite seria para um sorvete.
—Acertou!
—Viu? Acertei e aceitei. Tem algo que preciso dizer. Ando desconfiada que você está escrevendo um romance.
—Por qual razão diz isso, Sapabela?
—Sei não, Rospo. Está deixando rastros de que está escrevendo um romance.



HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 723
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Que lindo! "Está deixando rastro de que está escrevendo um romanca.."è o melhor amigo sim! Que escreve e emociona.
    Luzz!
    Ana

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