quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A TRANSLAÇÃO DA SAPABELA

—Sapabela! Que sábado azul, ensolarado. Mormaço triunfante. Tudo de bom, tudo demais!
—Rospo! Parece-me tão feliz, tão contente. Às vezes sinto-o como o mais feliz sapo de brejo, mesmo com as passageiras fases de tristeza. Seria por acaso o sapo mais feliz do brejo? Talvez o mais brejeiro?
—Francamente sim.
—Isso me deixa feliz também, pois sou sua amiga. Mas tem um detalhe.
—Diga.
—Hoje não é sábado. É quarta.
—Não é sábado? Então, sabadofiquei-me.
—Vamos aproveitar para um sorvete?
—Sorvete? Só se for agora!
—Mire ao redor, meu querido. Veja, está suspensa no ar. Sinta-a!
—Do que fala, Sapabela?
—A gratidão, Rospo, ela está no ar. Basta aspirá-la. Nós, que vivemos o ano em plena gratidão, e a comemoramos  com nossos sorvetes, nossos abraços, nossas conversas...
—O vestidinho.
—Sim. Confidências, declarações, anseios.
—Até bronca andei levando.
—Merecida.
—Pois então?
—Nós, que estivemos juntos, vamos receber o Natal e o Novo Ano. É tão significativa a chegada de um novo ano.
—Para muitos  é apenas mudança de calendários.
—Participamos de algo imenso que é a translação do planeta. Nossas vidas em translação cumpre a jornada de sonhos e quereres.
—Verdade!
—O Planeta girou ao redor do astro maior, e cá estaremos participando do momento único que é o fim de um ciclo, uma volta, uma translação. Como podem dizer que a chegada de um ano é algo sem importância? É uma coisa extraordinária que temos a glória de vivenciar. O Planeta completar um giro ao redor do Sol. Giramos ao redor de uma estrela, Rospo, e isso não é importante?
—Tem toda razão, amiga.
—Rospo, ora veja, enquanto estávamos envolvidos com picuínhas, muitos de nós...
—Eu não!
—Mas a maioria sim. Enquanto nos envolvíamos com questões menores do cotidiano, algumas puro luxo de vaidade intelecual, o planeta cumpria a sua jornada...
—Sapabela, somos translações de nossos sonhos, de nossos ideais. Obrigado, amiga!
—Do que me agradece, Rospo?
—Por ter estado ao meu lado nessa translação...
—Ora, Rospo, foi de uma alegria intensa. Quando chegar o minuto final, quero estar com você num abraço de mil fogos de artifícios, de mil luzes.
—Receber 2012, apenas uma convenção numérica para algo tão infinitamente imenso.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 —741
Marciano Vasques

2 comentários:

  1. Sim amigo, "È uma coisa grandiosa que temos a gloria de vivenciar, somos traslações de nossos sonhos, nossas idèias"Obrigada por ter ficado ao meu lado nessa translação...
    Luz
    Ana

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