sábado, 17 de março de 2012

O GALINHEIRO

O GALINHEIRO



Lá estava eu pulando de poleiro em poleiro dentro do galinheiro, brincando de locutor de rádio.
Cada salto um novo "reclame". Sabonete Palmolive. Alka-Seltzer. A lambreta...
E as emoções de "Bianca": a cada capítulo um novo suspense. 

Ficava assim a tarde inteira. Foram muitas as tardes. Diversão extremamente prazerosa para mim. Fosse quente ou frio o entardecer, estava em meu mundo, em meu universo, com umas três ou quatro galinhas e um galo, que ficavam num canto, espantados e pensativos sobre o que aquele sujeito maluco estava fazendo, se pudessem pensar, claro, mas galinhas não pensam. Se pensassem não dormiriam no pé de jaca em noites de temporal, como na noite em que acordei com febre por causa delas.
Não conseguia pegar no sono de tanto que me angustiava o fato de as galinhas do quintal dormirem no alto da jaqueira com uma chuva tão intensa. No mínimo acordariam doentes se não morressem durante a madrugada. Não custava nada elas pularem do galho e se abrigarem na varanda, poderiam ficar ao lado da bomba que puxava a água do poço, mas não tinha jeito, permaneciam a madrugada adentro na árvore, sendo castigadas pela tempestade, e eu, que não conseguia dormir por causa do sofrimento delas, tão logo adormeci, despertei ardendo em febre. Bem no arco da madrugada. Sabia que estava num abismo madrigal por causa da nitidez dos sons: o grilo, a chuva que havia passado, mas as gotas despencando das folhas, o tique-taque do despertador. As onomatopeias da alma.
Quando o pai construiu o galinheiro fiquei feliz demais. Claro que tivemos jantares regados pelo assunto do galinheiro que seria um dia construído. Minha mãe dizendo que não dava mais, que ele precisa pensar nas pobres, que se ele quis ter galinhas, então teria que ser responsáveis por elas. A mulher falando, falando, e eu sob a mesa, vivendo novas e emocionantes aventuras.
A insistente patroa falava do galo, o mais bonito da vila. Um lindo vermelho escuro deslizava em seu corpo, reluzente, com os raios solares a refletir em suas penas. Bicho assim portentoso não deveria ficar solto pelo quintal, pois poderia escapulir pela cerca de arame farpado e desaparecer. Muita gente adoraria ter aquele galo e ganhar um dinheiro com a briga. Tanto ela falou que ele decidiu construir o galinheiro. Talvez ela o tenha convencido com o argumento do galo, pois ele tinha paixão por aquele bicho. Era um troféu em sua vida, tal como a mandioca e as espigas de milho do quintal. Realmente ela foi muito habilidosa quando começou a falar do galo, tocou no ponto fraco do meu pai. Ela sempre tinha um jeito pra conseguir o que queria.

Marciano Vasques

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