quarta-feira, 11 de abril de 2012

A FILA CIRANDOU

Fulo na fila, Rospo puxa conversa.
—Está curta a conversa, não é, meu amigo?
—Que conversa, sapo? Ninguém está conversando.

—Será que esqueceram?
—Esqueceram do quê?
—Da conversa. Você já ouviu falar que conversando a fila fica mais deliciosa?
—Posso entrar na conversa?
—Pode. Fico feliz pelo súbito interesse.
—É que ouvi falar em "deliciosa", justamente no momento em que olhava a vitrine do balcão. Você sabia que quando eu era uma sapinha nunca comi um sonho?
—Nem eu. Depois, quando cresci já estava treinado na sobremesa.
—Que sobremesa?
—A vida. Quer dizer: eu sonhava e a sobremesa do sonho era viver, o que se traduzia sempre por tentar transformar o sonho em realidade.
—Nem sempre isso é tentador, Sapo. Às vezes os sonhos são pesadelos. Qual o seu nome?
—Rospo, e o seu?
—Fulô, o povo lá da terra me chama assim. Meu nome é Maria Flor.
—Que fila, Fulô!
—Sapo, você estava era puxando conversa comigo. Agora estou esquecido.
—Não, amigo, entre na roda.
—Também quero entrar.
—Calma, sapos, isso é só uma fila.
—Era!
—Rospo, conhece a ciranda da Lia?
—Tem uma coisa curiosa: às veze me pego assim repentinamente com vontade de ler ou reler um livro. Ontem, na manhã, comecei a pensar em um livro de Jorge Amado, que faz tempo li. Isso me trouxe uma súbita felicidade.
—"Mar Morto"? "Jubiabá"?
—Pessoal, essa Fulô sabe tudo!
—Vejam quem chegou na roda. Que sapa linda!
—Sapabela! Entre na ciranda.
—Rospo, é melhor ir até a calçada. Aqui na padaria não cabe a ciranda.
—Ei, vocês não queriam pão?
—O que a moça do balcão está falando?
—Nada como uma calçada. Eu começo.
—Então, comece, Sapabela.
—Eu ajudo!
—Quem é ela, Rospo?
—É Fulô.
—Então vamos nessa, Fulô!
—Prazer em conhecê-la, Sapabela.
—Que seja. Mas vamos à ciranda.
—"Esta ciranda quem me deu foi Lia...☺...
—Que bonito. Vamos todos!


O telefone toca.
—Rospo, sou eu. Acorde! Vamos até a padaria buscar pão?
—Yupiii!
—Ficou maluco?




HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 779
Marciano Vasques

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