sexta-feira, 6 de abril de 2012

SORVETE AO LUAR?

—Sapabela, não se vá.
—Do que está falando, Rospo? Nem cheguei ainda. Estou em casa.
—É verdade. Devo estar numa dose alta de ansiedade.
—Mas ligou por algum motivo. Algo o aflige?

—Não, querida. Quero fazer um convite.
—Então faça.
—Sapabela, eu a convido para...
—Aceito!
—Que rapidez. Por isso você é demais.
—Rospo, e onde vamos tomar o sorvete?
—Que tal na Praça Azul?
—Topei.
—Quando?
—Já. Estou indo para lá.
—Vai de carro?
—Está brincando, Rospo? A Praça Azul é só uma caminhada. E não posso perder a esperança de me ver na calçada. Quem sabe até dançaremos ao luar.
—Sapabela, não tem luar ao entardecer. Nosso sorvete é pra já, lembra?
—Rospo, às vezes você perde muito tempo falando. Já indo.




Na calçada se encontram.
—Obrigado pelo convite, amigo. Veja! Lá está a Praça Azul.
—Que visão linda, Sapabela!
—É só nossa.
—Não, Sapabela, a "Praça é do Povo". Todos podem vê-la.
—Sempre depende do olhar, não é, meu amigo? Se o olhar foi regado, cultivado, desde cedo...
—Entendo. Chegamos.
—O meu sorvete quero de manga.
—O meu de abacate, depois de milho verde. Depois...
—Rospo, que fila de sorvete é essa! Abacate, milho verde...
—O luar, lembra?
—Ótimo! Então vou começar a desfilar os meus.
—Sapabela, adorei o seu vestido, as cores, principalmente o verde.
—Rospo? O verde é o meu corpo, meu pescoço, meus braços...
—É mesmo! Você é a doce extensão do vestido.
—Vamos sentar num banco?
—Vamos. Rospo, fale do livro que está lendo. Vamos marcar o cinema pra ver essa nova versão da Branca de Neve?
—Já indo, Sapabela, já indo.
—Pode ser hoje à noite?
—Sapabela, sorvete ao luar é privilégio que não se pode desperdiçar. Deixaremos o cinema para amanhã.
—Rospo, sempre agradeço o dia em que me viu saindo da floricultura. Só não precisava ser tão barulhento. Fez um escarcéu.
—Nunca tinha visto uma flor andando, Sapabela.
—Você não toma jeito. Mas é verdade. Sempre agradeço pela nossa amizade, desde aquela tarde.
—Naquele dia eu nem imaginava.
—Imaginava o quê?
—Flor tomando sorvete.
—Não me faça, ou melhor, faça-me rir, Rospo.




HISTÓRIAS DO ROSPO 2012    — 775


Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Que ternura de texto ! Uma amizade temperada com doçura e simplicidade. Ah!!!! Que bom seria que tudo fosse assim.

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