quarta-feira, 13 de junho de 2012

DOCE DEMAIS ENJOA?

—Doce demais é enjoativo.
—É?
—É!
—Pensa isso mesmo, Rospo?
—Eu? Não!
—Por qual motivo falou? Está querendo uma conversa?
—É que alguém escreveu isso, em algum lugar na facesfera.
—Compreendo. Mas, você concorda?
—O doce se reparte em mil sutilezas, meu bem. A vida é repleta de doces, precisamos primeiro situar a qual doce devemos nos referir. A voz doce da sapa amada jamais será enjoativa. A doçura nas coisas de que fato importam, como poderia enjoar? O doce metaforizado na poesia, jamais seria enjoativo, desde que a poesia transporte a alma do esmeril da palavra. A amizade de uma doçura autêntica jamais poderia ser enjoativa. Um doce não compactado, não enjaulado, como deveria pois enjoar?
—Vamos simplificar, meu doce amigo?
—Sapabela, veja só: se estiver se referindo ao doce que contém açúcar, ou seja, se estivermos num eixo fora da literatura e da leitura, que também é doce, originalmente todo doce, ou seja, todo alimento doce, poderia ser enjoativo, mas esse "poderia" é importante.
—Com efeito, o "futuro do pretérito" deve merecer toda atenção. Poderia falar mais desse poderia?
—O doce de abóbora, que era feito no panelão, no caldeirão, na infância de algum sapo, jamais será enjoativo, mesmo que resista ou sobreviva apenas na memória afetiva.
—Eu jamais enjoaria de doce de abóbora.
—Nem eu. Resumido: Nem sempre tudo que é doce enjoa.
—Verdade, Rospo. A amizade trançada em versos e conversas palmilha delicadezas de azulejos num alvorecer de sol acanhado.
—Sapabela, sempre fico feliz com essa invasão da alma lusitana em nossas conversas.
—Que doçura!




HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 783
Marciano Vasques



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