sábado, 16 de junho de 2012

SÁBADO DE NANQUIM E SORRISOS

Lá estava o Rospo sabadoficando.
—"Como é bom não ter compromisso! Poder caminhar na calçada sem rumo."
Falando em rumo, encontra a amiga Sapabela.
—Rospo!
—Bom dia, Sapabela. Eu a convido...
—Aceito!
—Então, vamos até a padaria, e durante o sorvete conversaremos um pouco. Está com um bom sinal de domingo no rosto.

—Você disse Rospo?
—Rosto, Sapabela. Rosto.
—Mas que bom sinal é esse?
—Está sorridente, amiga. 
—Interessante, lembro de como as palavras se formam.
—Sei, pensou que aguardente surgiu da junção de água ardente, e que sorridente...
—Não é?
—Pode ser. Na verdade, até um sorriso suavemente meigo pode ser ardente pelo que ele pode desencadear. Todo sorriso é uma pausa no cotidiano para a vida suspensa que está precisando ser vivida. O sorriso é o encontro com algo que nos resgata.
—Por acaso desencadearíamos um domingo ao sorrir?
—No acaso acuso você de poesia, Sapabela.
—Rospo, que saudades você me traz...
—Saudades?
—Andar pela cidade, assim, solta e feliz, como sempre fui. Incrível! Como sou feliz, Rospo! Como é feliz uma sapa que caminha numa calçada de manhã azul num sábado e encontra o seu amigo de conversas versadas...
—Pois é, pelo visto... e pelo vasto, já entendeu bem o que eu quis dizer com o sinal de bom domingo. É tudo isso que o seu sorriso traz. Sou privilegiado. 
—Onde começou essa certeza de que você é feliz, Rospo?
—Eu disse isso?
—Estou vendo os sinais em seu rosto.
—Começou certamente nas tiras de nanquim.
—Ainda pensa nelas, não é?
—Sabe, Sapabela, sou aceito pela tecnologia, estou plenamente inserido na maravilha de estar aqui...
—Aqui...
—Também ama essa palavra?
—Sim. Como é importante o AQUI, mas continue. Você dizia que estava plenamente inserido na época...

—Mas jamais sairá de mim o gosto pela tinta nanquim, no papel, e meus olhos percorrendo aqueles quadrinhos. Isso ninguém tira de um menino jamais, mesmo que ele tenha se tornado um sapão.
—Rospo, que sorvete feliz! Estou sabadoficada.
—Mas com o sinal de bom domingo no rosto.
—Faz aquilo, Rospo.
—Estamos na padaria. O povo ainda está meio sonolento.
—Acorde o povo, ora!
—Está bem: Yupiiii!
—Rospo, obrigado por tudo, principalmente pelo seu Yupiiii!
—Sapabela, é muito privilégio para um sapo só. A memória do nanquim no papel e o seu sorriso de sinais.
—Rospo, que vontade de expôr para as minhas colegas a minha felicidade.
—Sempre surge essa vontade, minha querida. No íntimo de seu ser é a velha necessidade filosófica de repartir a felicidade...
—Mas sempre tenho receio. Às vezes, ao repartir com muitos, você acaba ficando sem. Nem todos torcem por mim...
—Você não precisa de torcida, Sapabela. Precisa lançar o seu sorriso sobre a vida distorcida que por acaso possa encontrar no cotidiano e seguir em frente num azul ciano de céu querendo ser dominical. 




HISTÓRIAS DO ROSPO 2012    —785
Marciano Vasques

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