AS COISAS E AS PALAVRAS
—Rospo, você ama
as palavras, não é?
—Sapabela, fico
sempre curioso com as palavras que se vão...
—Palavras são
filhas da época, lembra-se?
—A Stella Maris
Rezende ama as palavras, ela com o seu “modo mineiro de ler o
mundo”... Considera mesmo apaixonante o sumiço das palavras?
—Quando a palavra
some é porque a coisa também sumiu. Você só nomeia o que ainda
existe. Não posso nomear algo inexistente. As palavras continuam a
morar no dicionário, mas não faz sua presença nas vozes dos
vilarejos, e dos povoados mais distantes. Se a coisa se foi, a
palavra perde o sentido no uso do cotidiano. A alma da palavra está
na coisa.
—É verdade,
amigo. Lembra aquelas expressões antigas? Formidável, Nos
trinques...
—Pois é, se
foram. Talvez não se encontre mais coisas tão formidáveis...
—Será?
—Mas nem sempre as palavras se vão com o sumiço das coisas.
—Mas nem sempre as palavras se vão com o sumiço das coisas.
—É?
—Lembra de uma
coisa chamada ideologia?
—Lembro! É
mesmo! Ideologia. Você sempre me faz sentir saudades, amigo.
—Então, a coisa
se foi, se esfarelou, dissolveu-se na fumaça e na poeira do tempo...
Mas a palavra ainda “existe”. É pronunciada diariamente por
muitos sapos...
—Tenho outra!
—Diz.
—Ética.
—Bem lembrado.
—Todos ainda a
pronunciam, principalmente na Política... Como se a coisa ainda
existisse...
—Verdade, às
vezes acontece isso. A coisa se vai e a palavra fica.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 803
Marciano Vasques
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