NO PASSADO E NO CÉU ESTRELADO
Sabadoficando,
Rospo e Sapabela passeiam pelas calçadas.
—Rospo,
minha amiga Colibrã...
—Gosto
do nome dela: mistura de colibri com rã.
—Isso
mesmo. Lutou pelo seu sonho de bailarina quando a vida dela, em todas
as circunstâncias, dizia “Não!”.
—Fale-me
sobre ela. O que está acontecendo?
—Está
numa aflição, indecisa, não sabe aonde levar a sobrinha. Sabe que
precisa sair com a sapinha, pois é sábado. Mas não consegue
decidir. Shopping comer no Mc não. A sapinha já faz isso direto. A
cultura de massa no cinema não. Ela sabe que a sapinha adora os
filmes, essas franquias, sabe também que multidões vão assistir,
que milhares e milhares de sapinhos estão na fila para ver o
Espetacular, e aquela “Era”, mas ela quer algo diferente.
—Vamos
ao eixo, qual é efetivamente a indecisão dela?
—Entre
o Museu do Ipiranga e o Planetário. É tão difícil para ela!
—Ela
poderia ter ampliado o leque. Tem a Pinacoteca, tem o Parque da Luz
com a Diana, tem...
—Verdade,
Rospo. Mas, fiquei de ligar para ela. A sapinha dela vive direto no
tablet, ou no fone de ouvido, ou nos jogos do celular...
—Compreendo...
Entre os dois é de fato difícil, pois são ambos extremamente
necessários.
—Ontem,
ela assistiu novamente ao DVD “Uma Noite No Museu”.
—Sim,
e a ideia de passar um dia no museu é fascinante. Mas no Planetário
também.
—Não
sei o que digo a ela.
—Argumente
que qualquer uma das alternativas irá enriquecer a sapinha. No
museu, o encontro com o passado, as origens, a história, a luta, os
sonhos... Só aquele quadro no salão nobre, aquele que vemos nas
fotos dos livros didáticos de História e de Geografia desde cedo...
—Sei,
do Pedro Américo.
—Um
esplendor!
—A
criança precisa ver o nascimento da mitologia numa obra de arte.
—Sapabela!
—Ficou
feliz?
—Claro!
Um sapo que tem uma amiga que diz uma coisa tão profunda assim só
pode ficar feliz.
—As
peças, as douradas, que jogam sobre os nossos olhos a efusividade da
luz imperial, e as que mostram a crueldade da escravidão, o
sofrimento, tudo está lá, tudo. E a criança precisa disso. Mesmo
que ainda não possa compreender com exatidão, mas ela necessita
desse contato com o seu passado. Para que possa presentificar a sua
alma em formação. O conhecimento do passado é o presente que seus
olhos infantis necessitam para a aventura da cidadania.
—E
o planetário, Rospo?
—Ela
precisa da imensidão onde brotam as luzes das estrelas. Precisa
dessa força insondável que transborda o céu de ótica azul,
necessita da harmonia dos mundos nesse ritual infindável... Com o
planetário ela aprenderá de forma suave e atraente a erguer os
olhos para o alto. Com seu olhar nas alturas, certamente será uma
sapa de boa vontade.
—Rospo,
vou ligar já para ela.
—E
o que vai dizer?
—Que
dê um jeito de arranjar dinheiro para a condução e para o lanche e
vá nos dois. Leve a sapinha à riqueza do passado e ao esplendor do
universo.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 795
MARCIANO
VASQUES
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