segunda-feira, 2 de julho de 2012

O SAPO E O PARAÍSO

—Rospo, a vida foi feita para a felicidade.
—Pleno, Sapabela, pleno! A vida jamais se beneficiará da tristeza.
A tristeza talvez seja apenas a necessidade do equilíbrio, porém, pela sua razão corrosiva da alma, deve ser afastada de imediato.
—Se tivesse um paraíso!...
—Tem!
—Onde está? Onde está?
—No único lugar onde tem sentido a sua existência.
—Rospo, vá com calma.
—Só velejo na calma. Aprendi o azul desde cedo.
—Mas também adora temporais.
—Não me recuso à aventura de viver.
—Porém, diga que lugar é esse, no qual o paraíso pode ser encontrado.
—É tão óbvio que os leitores já sabem.
—Adoro metalinguística.
—Eu também.
—Mas, não enrole, Rospo! Diga logo onde é o lugar do paraíso.
—Dentro de você.
—Dentro de mim?
—De cada um de nós.
—E como faço para viver nesse paraíso, Rospo?
—Para fazer é preciso desfazer.
—Que papo é esse, amigo?
—Desfaça a ideia de paraíso como um lugar sem vida, só gozo...
—Rospo, mas já sou um feixe luminoso de lutas que travo a cada dia...
—O paraíso que está em você pode se chamar recompensa. E isso quer dizer: não apenas gozo, no sentido do gozo improdutivo.
—É muito pra minha cabeça, Rospo.
—Estou querendo dizer que existe o gozo produtivo. Ou seja, um lugar onde você possa ler, compor, escrever, montar um teatro, realizar coisas, não apenas no universo da arte...
—Tudo isso dentro de mim?
—A fonte primária de todo evento está dentro de você.
—Tudo bem. Mas então você está subvertendo o conceito, a ideia original de paraíso?
—Se você se torna habitante desse paraíso só para gozar, sem produzir... Esse perde o seu sentido, até como metáfora.
—Rospo.Por tudo que eu estou tentando entender, então o paraíso pode valer a pena?
—Considerando que "valer a pena" pode significar que vale ser escrito, creio que sim. Então, se quer conhecer o paraíso, que está em você, comece a edificar mundos, produza, e verá como será feliz.
—Rospo, preciso ir, mas levo essa conversa comigo.
—Gostei Sapabela. Todos os sapos deveriam fazer isso: levar a conversa consigo.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 789
Marciano Vasques

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