domingo, 19 de agosto de 2012

GATOSA E O BEIJO ROUBADO


—UASHUAHSUAHSUA!
—Nossa, Sapabela! Que alegria!
—Sou feliz! Rospo, mas não precisa espalhar.
—Posso saber o motivo de tanta felicidade, já que teme quebranto?
—Quem falou em temer? É que não acho justo algumas colegas gastarem energia de forma tão infrutífera.
—Sapabela, hoje é domingo, dia da parlenda.
—Parlenda?
—“Pede Cachimbo”, lembra?
—É verdade! Mas, como estou feliz!
—O que foi, querida?
—Descobri que tenho quarenta e cinco anos.
—Yupiiii!
—Não exagere, Rospo!
—Mas isso é motivo para alegria e felicidade mesmo, principalmente por ser deveras interessante ter quarenta e cinco contracenando com os vinte e cinco que florescem a cada nova manhã...
—Essa coisa de juventude é mitológica... Mas se um dia eu envelhecer... Saberei o que de fato terei perdido a partir de então...
—Gosto muito de vê-la feliz, amiga.
—Ora! Veja só! Ontem, fui comprar a bebida gelada para o domingo e o vendeiro me solicitou a carteira de identidade... Disse que não costumo levar documentos quando vou até a esquina, mas ele não quis me vender, disse que agora é lei. Disse que não vende bebidas geladas para sapas com dezessete anos... Álcool? Só para maiores.
—Impressionante!
—Pois é, sinto-me uma gatosa...
—Gatosa? Seria gata gost...
—Rospo, isso é pleonasmo. Eu quis dizer Gata idosa. Isso é gatosa. Uma gata idosa...
—Ser idosa é uma boa, desde que não envelheça...
—Rospo, só o corpo vai mudando... Mas a alma de Sapabela vai ao avesso...
—Ao avesso?
—É, rejuvenesce a cada dia...
—Claro, transita entre luzes...
—Entre sapos arejados, amigos brilhantes e fiéis...
—Valoriza muito a amizade, não é, Sapabela?
—Amizade é como namoro. Requer cuidados diários, zelo incessante, investimento, esmero...
—Às vezes algumas sapas, quando começam a namorar se afastam de antigas amizades...
—Que bobas. E você, Rospo, como já se deu conta de que hoje é o dia da parlenda, que hora vai me convidar?...
—Esse verbo é tudo, pois será agora.
—ACEITO!
—Pois vamos a padaria Rubi, que algum trocadinho eu tenho...
—Sorvete, aqui vai uma de dezessete.
—Acompanhada de um sapo muito feliz...
—Rospo, posso gargalhar?
—Aprenda definitivamente: algumas coisas não se pede...
—Pois então: UASHUAHSUAHSUA!
—Sapabela, diga o que é o que é, que pode ser roubado ou conquistado.
—Sei não.
—Coaxsnog!
—Rospo, você beijou a minha face...
—Respondi de forma concreta. Não fique brava por um beijo roubado num domingo de manhã...
—Roubado? Quem falou em roubado?
—Yupiiii!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 813
Marciano Vasques

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