segunda-feira, 6 de agosto de 2012

SAPABELA COMEMORANDO





SAPABELA COMEMORANDO



Rospo bate à porta.
—Chegou na hora, Rospo.
—Atrasei um pouco. Nossa! Que mesa linda, Sapabela! Pão caseiro, bolo de...
—Cenoura!
—Yupiiii!
—Está bem, Rospo! Já fez isso. Não precisa mais. Os vizinhos dormem até tarde no domingo.
—Quando me convidou, aceitei de imediato e esqueci de perguntar o motivo da comemoração.
—Comemoro dois motivos, Rospo.
—Quais, Sapabela?
—Passei no concurso da Secretaria da Cultura, para trabalhar como restauradora de palavras.
—Que maravilha! Isso merece um brinde! Abra o licor de anis, por pavor, querida.
—Espere um pouquinho. Deixe-me falar do segundo motivo.
—Então é mesmo comemoração dupla.
—Naturalmente. Por isso o convidei.
—Obrigado pela confiança.
—Quer saber o segundo motivo?
—Quero é começar a comemoração logo.
—Rospo! Tire os olhos do bolo de cenoura um pouco! E ouça:
—Diga, minha querida.
—O segundo motivo é o silêncio.
—Silêncio?
—Sim, o aplauso silencioso...
—Do que está falando?
—Uma de minhas colegas quando soube ficou num silêncio remoído... Conseguiu até pronunciar um Parabéns tão acanhado...levemente encardido pelo ciúme...
—Isso é o aplauso silencioso?
—Sim. Você sabe que eu estou na Rede Social? Já o solicitei ontem.
—Yupiiii!
—Rospo! Sem escândalo! Vão reclamar ao síndico.
—Tim Maia? Onde?
—Faça-me rir quantas vezes quiser... Mas... Sim, estou na Rede. E já tenho alguns bons amigos... E alguns “Amigos” também...
—Fale-me um pouquinho sobre isso.
—Tem algumas amigas que apresentam um comportamento curioso...
—É?
—Jamais curtem qualquer postagem de algum sucesso, alguma conquista minha, alguma notícia boa sobre mim...
—E o que elas curtem?
—Quando posto alguma foto de árvore, de flor, de paisagem...
—Interessante. Agora temos o trio.
—Que trio?
—O trio da comemoração. A sua conquista no concurso, o aplauso silencioso e a sua entrada na Rede. Então, vamos lá, bolo de cenoura!
—Rospo, você só pensa no bolo e no licor... Mas nem reparou uma coisa que eu disse quando chegou...
—Reparei sim, hoje não é domingo, é segunda-feira...
—Rospo, você não tem jeito. Só posso dizer: Yupiiii!
—Sapabela, com você fica melhor. A sua voz é sonora, é aconchegante, é doce...
—Doce como...?
—Licor de anis!
—Está bem, aceito esse afago... Vamos à mesa.
—Sapabela, ainda bem que resolveu comemorar logo cedo, pela manhã. Hoje, irei um pouco antes para o trabalho.
—Vamos ao nosso drinque?
—Sim, tim tim tim! Um para cada motivo: o seu concurso de restauradora de palavras, o ciúme da colega, e sua leitura da alma, que faz na Rede Social.
—Pensou que eu iria ficar só na face? Adoro mergulhar, Rospo...
—Por isso estarei sempre ao seu lado...
—Tome, Rospo.
—A primeira fatia é minha?
Claro, não é? É o meu único convidado, e mesmo que aqui estivesse uma pequena multidão, para quem acha que seria a primeira fatia?
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 808
Marciano Vasques



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