SAPABELA COMEMORANDO
Rospo
bate à porta.
—Chegou
na hora, Rospo.
—Atrasei
um pouco. Nossa! Que mesa linda, Sapabela! Pão caseiro, bolo de...
—Cenoura!
—Está
bem, Rospo! Já fez isso. Não precisa mais. Os vizinhos dormem até
tarde no domingo.
—Quando
me convidou, aceitei de imediato e esqueci de perguntar o motivo da
comemoração.
—Comemoro
dois motivos, Rospo.
—Quais,
Sapabela?
—Passei
no concurso da Secretaria da Cultura, para trabalhar como
restauradora de palavras.
—Que
maravilha! Isso merece um brinde! Abra o licor de anis, por pavor,
querida.
—Espere
um pouquinho. Deixe-me falar do segundo motivo.
—Então
é mesmo comemoração dupla.
—Naturalmente.
Por isso o convidei.
—Obrigado
pela confiança.
—Quer
saber o segundo motivo?
—Quero
é começar a comemoração logo.
—Rospo!
Tire os olhos do bolo de cenoura um pouco! E ouça:
—Diga,
minha querida.
—O
segundo motivo é o silêncio.
—Silêncio?
—Sim, o aplauso silencioso...
—Sim, o aplauso silencioso...
—Do
que está falando?
—Uma
de minhas colegas quando soube ficou num silêncio remoído...
Conseguiu até pronunciar um Parabéns tão acanhado...levemente
encardido pelo ciúme...
—Isso
é o aplauso silencioso?
—Sim.
Você sabe que eu estou na Rede Social? Já o solicitei ontem.
—Yupiiii!
—Rospo!
Sem escândalo! Vão reclamar ao síndico.
—Tim
Maia? Onde?
—Faça-me
rir quantas vezes quiser... Mas... Sim, estou na Rede. E já tenho
alguns bons amigos... E alguns “Amigos” também...
—Fale-me
um pouquinho sobre isso.
—Tem
algumas amigas que apresentam um comportamento curioso...
—É?
—Jamais
curtem qualquer postagem de algum sucesso, alguma conquista minha,
alguma notícia boa sobre mim...
—E
o que elas curtem?
—Quando
posto alguma foto de árvore, de flor, de paisagem...
—Interessante.
Agora temos o trio.
—Que
trio?
—O
trio da comemoração. A sua conquista no concurso, o aplauso
silencioso e a sua entrada na Rede. Então, vamos lá, bolo de
cenoura!
—Rospo,
você só pensa no bolo e no licor... Mas nem reparou uma coisa que
eu disse quando chegou...
—Reparei
sim, hoje não é domingo, é segunda-feira...
—Rospo,
você não tem jeito. Só posso dizer: Yupiiii!
—Sapabela,
com você fica melhor. A sua voz é sonora, é aconchegante, é
doce...
—Doce
como...?
—Licor
de anis!
—Está
bem, aceito esse afago... Vamos à mesa.
—Sapabela,
ainda bem que resolveu comemorar logo cedo, pela manhã. Hoje, irei
um pouco antes para o trabalho.
—Vamos
ao nosso drinque?
—Sim,
tim tim tim! Um para cada motivo: o seu concurso de restauradora de
palavras, o ciúme da colega, e sua leitura da alma, que faz na Rede
Social.
—Pensou
que eu iria ficar só na face? Adoro mergulhar, Rospo...
—Por
isso estarei sempre ao seu lado...
—Tome,
Rospo.
—A
primeira fatia é minha?
—Claro,
não é? É o meu único convidado, e mesmo que aqui estivesse uma
pequena multidão, para quem acha que seria a primeira fatia?
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 808
Marciano Vasques
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 808
Marciano Vasques
Que bom, junto-me à festa... em silêncio :)
ResponderExcluirabraços
cvb