domingo, 23 de setembro de 2012

SAPO NA CALÇADA, CONVERSA NO TREM




SAPO NA CALÇADA, CONVERSA NO TREM


Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


Que alvoroço é esse fora?pergunta a Sapabela para a sua colega.
É um sapo na outra calçada.
É o mesmo da semana passada?
Pior que é!
OuMelhor que é. saber.
O que ele quer, Sapabela?
Na semana passada sossegou depois que eu saí da floricultura. Disse um monte de coisas. Fez um escarcéu dizendo que eu era uma flor que estava escapulindo... Eu não sabia se ria ou chorava.
Mas, o que ele queria?
A minha amizade.
Entendo. E hoje, vai falar com ele?
Será que ele ficará até o final do expediente?
Tem sapo que não desiste.
Bem, vamos atender aos clientes... Estamos aqui para vender flores.
Reparou uma coisa, Sapabela?
Diga.
Ele está com uma tabuleta.
Será que está trabalhando para algum candidato?
Sei não. Na tabuleta está escrito :Gosto de Licor de Anis.
Será que é para mim que ele escreveu isso?
A única flor que anda e fala aqui é você.
Ora, amiga, pare de zombar. Se for para mim, vou responder:E eu com isso?
Veja! Ele virou a tabuleta!
Agora está escrito:Aprecio muito a leitura.
Gostou, não é?
De fato, também adoro ler. Mas vamos deixar de lado esse sapo, e cuidar da clientela.
Quem sabe ele resolve se mandar.

Ao final do expediente.
Boa tarde!
Oi, Sapo, é você?
Meu nome é Rospo.
Eu não tenho culpa, não fui eu quem escolheu esse nome para você.
Desde que era um botão você é assim presunçosa?
Eu sou o quê?
Deve aprender a tratar um sapo com cortesia, com gentileza... Pelo menos um sapo como eu...
O que você tem de diferente dos outros sapos?
Veja se algum outro reparou que você é uma florque- anda.
Sapo, ou melhor, Rospo, até que você é divertido.
Vai pegar o trem?
Sim, moro na periferia... E quero logo chegar em casa.
Anis?
Não entendi.
Que tal um licorzinho?, e podemos laçar uma primeira conversa e então...
Por que haveria eu de tomar licor com um sapo que nem conheço?
Não conhece? Como ousa dizer isso? Eu estou aqui, de plantão, desde cedo, na calçada...
Por que quis.
Exato! Por que quis. E esse querer não importa? Gosta de poesia ou de romance?
—Aprecio crônicas e de contos.
Eu também. leu algum de meus livros?
É escritor? Nunca vi na livraria um livro seu.
Mesmo que não tivesse um livro meu em qualquer livraria, eu seria escritor, entendeu?
Estou começando a gostar de seu papo, amigo. Mas você parece muito convencido.
É linda.
O que disse?
Regada com licor de anis a conversa fica mais interessante...
Está bem, aceito. Mas não posso perder o meu trem.
Para que vila vai?
Brejo Azul... Fica bem no extremo da periferia...
Também vou pegar o trem para lá.
Mora no Brejo Azul?
Não.
E por que vai para lá?
Quando um trem leva uma conversa a vida fica melhor.
Sei. estamos, peça o licor de anis.
Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
É assim que você pede?

HISTÓRIA DO ROSPO 2012 —827
Marciano Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog