sábado, 10 de novembro de 2012

O ADEUS É EDIFICADO

—Rospo! Hoje é sábado! Viva!
—Yupiiii!
—Yá!
—Yupiiii!
—Que me conta de novidade, querido amigo?
—Sapabela, a doçura da alma é a garapa essencial.

—A vida é melhor na garupa da garapa.
—Yupiiii! Fico feliz quando sinto o aroma, a rima, e então algo em mim se arruma, sem um só farelo de muro de arrimo... A rima me devolve o ramo da poesia. E vou ao laçamento do livro de meu amigo.
—Não é laçamento, Rospo! É lançamento.
—É pois laçamento, pois numa noite de lançamento os amigos reatam ou fortalecem os laços. Lançamento de livro tem uma coisa essencialmente mágica que só é possível nesse evento.
—Então, é mais do que coquetel, mais do que apenas autógrafos?
—Claro, querida. É reencontro, é abraço gigante se espalhando, sapos felizes, sapos presenciando e participando da chegada de um novo livro. Isso é um acontecimento marcante na história da humanidade do sapo. Infeliz o tempo só de guerras, e salve o tempo de lançamento de livros.
—Muito bem, então, se deixe enlaçar, por favor.
—Mas já sou todo entrelaçado, Sapabela.
—Rospo, na nossa última conversa enquanto íamos à Padaria Rubi, você comentou sobre a inesgotável fonte que se acaba...
—Você lembra?
—E eu sou sapa de desprezar conversa?
—Falando em conversa, sabe qual é o antônimo de conversa?
—Não. Qual?
—Fofoca, assunto trivial, ausência de diálogo. São vários os antônimos.
—Rospo, muito bem, mas falou também da tal odisseia do Adeus. O que isso vem a ser?
—Exato, o Adeus atravessa grandes desafios em sua odisseia. Ele realiza a sua viagem no desgastante cotidiano dos relacionamentos. Quando ele chega, na verdade, ele apenas apresenta o seu ponto culminante. Não se diz Adeus por vocação espontânea.
—Estou entendendo, fale só mais um pouquinho.
—O Adeus é resultado de sua própria olaria, ou seja, de tijolo em tijolo ele vai sendo fortalecido e tomando forma. Quando o Adeus surge, na verdade ele apenas se revela em seu esplendor, pois ele já tem o seu histórico, a sua gênese, o seu crescimento. Quem vive a experiência de um Adeus certamente vive a sua extensão, vive a sua origem e todos os trajetos... Geralmente, o Adeus luta com força para não ser. O Adeus é aquele que não quer dizer o seu nome. Mas, por mais resistência que tenha aos atritos de um relacionamento improdutivo, ele acaba cedendo e se torna real, concreto, absoluto.
—Ele é um fogo que a si se consome?
—É uma vontade dilacerada pelo excesso de perdões inócuos, pela repetição de sofrimento. Nunca despreze a força de um Adeus. Por mais áspero que possa ser, ele é repartido através dos dias, no tempo de consumo do amor que se vai...Quem chora no Adeus, deveria ter se sobressaltado a cada dia, quando o Adeus ia aos poucos se consolidando. Afinal, o Adeus é edificado. Cada um pode dar a sua contribuição. O pagamento é a solidão vindoura. Então, quem quiser, em qualquer parceria é só dar a sua raspadinha no amor, em vez de polimento. Uma farpa num dia, um reveses no outro, arremessar os melhores sentimentos, asperezas, atritos, mentiras... A coisa mais simples é colaborar com a edificação do Adeus.
—Rospo, vamos falar de chegada...de alegria... Que tal, Rospo, se me convidasse...
—Aceito!
—Aceita o quê?
—Convidá-la.
—Então vai, toma que é seu.
—Já que é meu o convite, que tal um passeio na Praça Azul e um sorvete?
—Demorando, Rospo, demorando! Vamos!
—Veja, entre as nuvens do céu azul claro...
—O que é aquilo brilhante? Sumiu! Era um risco. Uma fagulha para os olhos...
—Seja o que for, era alado.
—Alado? Então será.
—Sapabela, posso dizer algo?
—Só se for agora.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Eia tarde linda! Vamos, Rospo, vamos ao sorvete. E viva o sábado!
—Viva!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012   — 839
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Feliz sábado,domingo y todos los días de la semana.
    Sóis encantadores.
    ¡Qué disfrutéis del sorbete!
    Un abrazo para vosotros y Marciano, Montserrat

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