sábado, 15 de dezembro de 2012

O PROVÉRBIO DA SAPARACI

—Sapabela, festejando a vida agora estou.
—Rospo, o que aconteceu de bom?
—Encontrá-la. É verdade! Encontrar uma amiga tão necessária na condução do fio da vida conversadeira é só o que eu mais queria nesta sexta... Hoje é sexta, viva! Ninguém é de ninguém, mas alguns são do amor... Sapabela?...
—Diga, meu anjo.
—Você está light.

—Rospo, estou apenas luzificada. Feliz, para variar. Desviando-me dos estilhaços dos que não conseguem...
—Não conseguem o quê, minha nega?
—Adoro isso, Rospo! Nâo conseguem perceber que a felicidade está na simplicidade da vida... Amo a energia que vem da simplicidade. E também adoro a provérbia da vida. Mas já que tocou, o sino badalou. Diga um provérbio que o atiça...
—"O feito fala".
—É elegantemente profundo. E concordo: não adianta você ficar badalando, desfiando e desfilando suas gloriosas qualidades, pois o feito fala. Quer dizer: algo que você produziu está eletrizado pela sua voz. A sua obra, o seu feito, fala por si.  O seu feito está impregnado de você, de sua alma, por isso faça como os sapos e as sapas que vai encontrando pelo caminho, que fazem tudo por amor, com esmero pelo simples fato de que a alma está impressa no que se faz. A alma que almeja já está no feito. Não precisa se vangloriar, pois o feito vale mais do que zil palavras. Troque o "Eu sou, Eu sou, Eu sou..."! pelo feito já disponível aos olhos de ver...
—Querida, e tem um segundo provérbio, entre outros, como o da rã, você sabe: "A rã que está no fundo do poço pensa que o céu é do tamanho da boca do poço".
—Adoro! Mas qual é o segundo provérbio?
—Como dizia a Saparaci...
—Saparaci? Quem é?
—Uma sapa avarandada de cabelos dourados que na quentura das areias vagava e refletia o rosto nas espumas santistas...
—Fale mais...
—Entre rastros e astros e riscos e mariscos, e maresia, barcos e voos de gaivotas, lá ia ela, com seu provérbio...
—Que provérbio, amigo?
—"Cá te espero!" Era assim que se anunciava. Dizia se chamar "Cá Te Espero"...
—É bonito, mas, diga algo sobre esse provérbio...
—Como era talentosa, bonita e sempre de bem com a vida, e vivia a sorrir e a salpicar seu brilho por onde passava, era sempre o mais certeiro alvo da inveja e do ciúme de algumas amigas...
—E então?
—Então, ela que bem sabia da translação da vida, vivia a conclamar na solicitude de sua calma e perseverança, que aqueles que nos invejam, e vivem tentando nos diminuir diante dos outros, nos alvejando com o latejante olhar do ciúme, estarão de volta um dia, precisando de nós, e por isso vivia a dizer: "Pode prosseguir com o coito de teu veneno, pois sei que voltarás, e então cá estarei para receber-te, pois afinal, pode o tempo passar, mas cá te espero. Pois esse é o meu nome: Cá Te Espero", e cá estou no colo da ventania  por ti a esperar.
—Essa Saparaci sabia o que queria...
—E agora, meu bem, o nosso licor...
—Vivia!
—Nossa, Sapabela! Está mesmo viciada em ser feliz!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 837
Marciano Vasques

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