terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

CORAÇÕES DESPREPARADOS

—Rospo! Como vai o seu coração?
—Despreparado...
—Como assim?
—O meu coração não está preparado para certas coisas...
—Por exemplo?

—Mire: uma criança foi alvo da inveja e do ciúme...
—Normal, é menino ou menina?
—Sapinha.
—Tem o estatuto de como se conseguir ser vítima de inveja e de ciúme...
—Tem?
—Sapabélico, mas tem: os itens, quer dizer, os artigos, ou seja, a lista, é imensa. Entre os quais, ser linda, como de fato todas a meninas já são por originalidade, e também ter sucesso na sua escola, ou se destacar no grupo... Bem, como mencionei, a lista é enorme. Mas, o que aconteceu?
—Alguém, movido pelo mais puro sentimento de inveja,  denunciou para a Rede que ela é de menor, tem apenas 11 anos, e o Site desativou a conta dela, afirmando que descobriram que ela é de menor...
—E ela ficou triste?
—Nem imagina. E tem um detalhe:
—Sim, sempre gostei de detalhes.
—Pois é, o coração dela não está preparado para isso. É uma coisa muito complexa para ela, medonha. O coraçãozinho de uma sapinha não está preparado para tal coisa, que sempre causa perplexidade, sempre choca.
—Pois digo algo, Rospo: Nem o coração de uma sapa está preparado para tal agressão, tal gesto subterrâneo...
—Então, estamos juntos, pois como eu disse no início da conversa, o meu coração também não está preparado...
—Entendo, Rospo, quando todo o saber, acadêmico ou das andanças pelas páginas da vida, pelas páginas, e pela "longa estrada"... torna alguém insensível ou arregimenta o coração numa encouraçada armadura que o impede de ver e de sentir as coisas mais puras e essenciais, algo não funcionou adequadamente, e todo o saber foi para o beleléu, isto é, esse coração, ao se abrir para a insensibilidade, está se capacitando para a arrogância, que é a irmã da intolerância e da ignorância, um trio que mobiliza o mundo para o obscurecer dos relacionares essenciais, ou seja, todos...
—Sapabela, falou bonito!
—Sapabela, nego!
—Assim como você, adoro isso, esse tratamento tão lindo, puro e amoroso, que vem dos vieses dos rincões da nossa sensibilidade sertanejadamente e nordestinizada, nessa mescla de sonhos, ganas, e almas lusitanas e indígenas e africanas, para a nossa glória e cores esfuziantes.
—Pois bem, assim como os nossos corações não estão preparados para essas súbitas traiçoeiras inventoras de perplexidades, imagine então o coração de uma sapinha.
—Pois é, minha querida amiga. Agora, diga: e o carnaval pelo brejo?
—Está normal de acordo com o espírito da época: alguém, uma artista, usou um "look ousado", alguém disse tal coisa, beijou alguém, e se teve ventura até engravidou alguém, e assim garantiu capas e caras, enfim, nada de novo, isto é, penso que esteja dessa forma.
—Mas os blocos de rua estão voltando, aqui no sudeste...
—Isso é muito bom, uma grata notícia, mas precisa cuidado, muito cuidado, muita proteção, pois senão os olhos movidos por cifrão, os interesses econômicos, começarão a "patrocinar" os blocos de ruas e aí, dançou, aí também foi para o beleléu.
—Linda, vamos na garapa?
—Que tal, Rospo, que tal um licor de anis?
—Aceito!
—Nossa, Rospo, parece comigo em algumas coisas...
—Naturalmente, por isso estamos juntos nesse licor.


ROSPO 2013 — 853

Marciano Vasques

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