sábado, 9 de fevereiro de 2013

REVENDO SAPABELA

—Um vinco na vida precisamos ter às vezes. Vinco, vinho, tudo de bom...
—Uau! Nos trinques! Chegou sabadoficado coração já na sexta...

—Sapabela, que alegria revê-la!
—Rospo, na geografia de minha alma sou apenas um rio de águas de saudades...
—Sei, linda, mas não se esqueça: Até as estrelas se transformam em tralhas quando a alma está triste. Vamos?
—Vamos aonde, meu bem?
—Ao licor de...
—Aceito!
—Sapabela, andei pensando. Melhor na vida é ser autêntico sempre, ser um sapo honrado, de palavra, mesmo que as circunstâncias queiram interferir...
Interferir é ferir numa aglutinação, sabe como é, ferir com gosto, de todos os lados e para todas as direções...
—É... Que seja... Meu caro, hoje é noite de conversa... Para fugir da audiência da TV...
—Sapabela, não gosta de carnaval? O carnaval está na tela. Viva a Tela da TV!
—Rospo, sempre se divertindo... Que me diz de novo?...
—O mesmo de sempre. Isto é, o que nem sei se sei... E você?
—Levando, levando, levando...
—Sim?
—Diz o grande contador de histórias, que é a voz dos tempos, que nós somos o sumo de nossa alma, somos o que não se pode medir, somos o imensurável, aquele que não se diz a si mesmo, aquele que apenas é...
—Prossiga. Está indo muito bem.
—E sem licor!
—Nesta noite eu quero ouvir a Sapabela.
—Provocou, agora segura.
—Estou aqui.
—Assim como Guimarães Rosa não é inventor, mas inventador, pois inventor seria muito óbvio, a vida segue em trilhas nunca dantes, e aquilo que às vezes nos atiça com faísca pode ser fiasco se não tiver o amor como ingrediente básico. Em tudo só o amor tem validade indeterminada, firme e consistente, começando na amizade. Que seria da amizade sem o amor que ela em si conduz?
—Que bonito, Sapabela! Fale mais.
—Às vezes o que o sapo precisa é de uma sapa que seja uma autêntica ladra para enladrilhar a sua vida. A jornada do sapo ao lado da sapa é a coisa mais esplendorosa da vida. Parece simples, parece pouco... mas é muito mais.
—Sapabela!
—A construção da felicidade começa na desconstrução de remorsos e estilhaços que ficam remoendo a alma...
—Está tudo muito bem, mas eu poderia saber o motivo de tanta inspiração? Ou melhor, deixe que vou arquitetando o meu sonho de sonhar...Você é demais!
—Rospo, meu amigo, sou simples, gosto de coisas simples, já disse, minhas roupas não combinam, sou espalhafatosa, retraída e expansiva. Sou sempre por inteira. Alegre e colorida, pois não vejo como de outra forma deveria ser. Mas, veja! Chegamos!, a padaria Rubi está repleta de luzes. Vamos nos juntar aos corações que amam o que passa ligeiro, mas de tão imenso, jamais passará, em nossas memórias, pois somos feitos de lendas, das histórias dos povos que não morrem...
—Sapabela, como é bom revê-la!
—Obrigado, Rospo!
—Mas o melhor é ouvi-la.
—Agora você me ganhou...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Espere um pouco, Rospo!, eu quis dizer; me ganhou para um licor de anis.
—Licor de anis? Que sapo feliz eu sou!
—Rospo, como é bom ser Sapabela!

ROSPO 2103    — 851
Marciano Vasques

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