—Um vinco na vida precisamos ter às vezes. Vinco, vinho, tudo de bom...
—Uau! Nos trinques! Chegou sabadoficado coração já na sexta...
—Sapabela, que alegria revê-la!
—Rospo, na geografia de minha alma sou apenas um rio de águas de saudades...
—Sei, linda, mas não se esqueça: Até as estrelas se transformam em tralhas quando a alma está triste. Vamos?
—Vamos aonde, meu bem?
—Ao licor de...
—Aceito!
—Sapabela, andei pensando. Melhor na vida é ser autêntico sempre, ser um sapo honrado, de palavra, mesmo que as circunstâncias queiram interferir...
Interferir é ferir numa aglutinação, sabe como é, ferir com gosto, de todos os lados e para todas as direções...
—É... Que seja... Meu caro, hoje é noite de conversa... Para fugir da audiência da TV...
—Sapabela, não gosta de carnaval? O carnaval está na tela. Viva a Tela da TV!
—Rospo, sempre se divertindo... Que me diz de novo?...
—O mesmo de sempre. Isto é, o que nem sei se sei... E você?
—Levando, levando, levando...
—Sim?
—Diz o grande contador de histórias, que é a voz dos tempos, que nós somos o sumo de nossa alma, somos o que não se pode medir, somos o imensurável, aquele que não se diz a si mesmo, aquele que apenas é...
—Prossiga. Está indo muito bem.
—E sem licor!
—Nesta noite eu quero ouvir a Sapabela.
—Provocou, agora segura.
—Estou aqui.
—Assim como Guimarães Rosa não é inventor, mas inventador, pois inventor seria muito óbvio, a vida segue em trilhas nunca dantes, e aquilo que às vezes nos atiça com faísca pode ser fiasco se não tiver o amor como ingrediente básico. Em tudo só o amor tem validade indeterminada, firme e consistente, começando na amizade. Que seria da amizade sem o amor que ela em si conduz?
—Que bonito, Sapabela! Fale mais.
—Às vezes o que o sapo precisa é de uma sapa que seja uma autêntica ladra para enladrilhar a sua vida. A jornada do sapo ao lado da sapa é a coisa mais esplendorosa da vida. Parece simples, parece pouco... mas é muito mais.
—Sapabela!
—A construção da felicidade começa na desconstrução de remorsos e estilhaços que ficam remoendo a alma...
—Está tudo muito bem, mas eu poderia saber o motivo de tanta inspiração? Ou melhor, deixe que vou arquitetando o meu sonho de sonhar...Você é demais!
—Rospo, meu amigo, sou simples, gosto de coisas simples, já disse, minhas roupas não combinam, sou espalhafatosa, retraída e expansiva. Sou sempre por inteira. Alegre e colorida, pois não vejo como de outra forma deveria ser. Mas, veja! Chegamos!, a padaria Rubi está repleta de luzes. Vamos nos juntar aos corações que amam o que passa ligeiro, mas de tão imenso, jamais passará, em nossas memórias, pois somos feitos de lendas, das histórias dos povos que não morrem...
—Sapabela, como é bom revê-la!
—Obrigado, Rospo!
—Mas o melhor é ouvi-la.
—Agora você me ganhou...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Espere um pouco, Rospo!, eu quis dizer; me ganhou para um licor de anis.
—Licor de anis? Que sapo feliz eu sou!
—Rospo, como é bom ser Sapabela!
ROSPO 2103 — 851
Marciano Vasques
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