segunda-feira, 22 de abril de 2013

CONTO DE PARÁGRAFO



NOITES

 Na noite em que o presidente da República jantava com a cúpula do governo do Panamá e com a diretoria da empreiteira naquele país, eu relia o poema "Cantiga para Não Morrer", de Ferreira Gullar, o mesmo que escreveu o "Poema Sujo", que li num livro que ganhei de aniversário, comprado no Círculo do livro, nos tempos do Tarancón, lá pelas tantas dos anos 70, quando ouvi pela primeira vez Parabien de La Paloma. Mas, na noite do jantar do presidente com o governo panamenho e com o diretor da empreiteira que financiou a sua viagem, por aqui acontecia uma coisa assim, de meninas caminhando nas empoeiradas ruas da vila da invasão, no vinco da periferia de nervuras e lágrimas latejantes cravejando sorrisos desbotados: meninas operárias, domésticas e balconistas, cadenciadas ao som do Funk numa tarde ensolarada de azul perdido, caminhando em névoas em plena alvorada.

CONTO DE PARÁGRAFO
Marciano Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog