domingo, 12 de maio de 2013

FALANDO DE MÃES E OUTROS ASSUNTOS

—Rospo! Dia das Mães!
—Não tenho mãe, Sapabela.

—Tem sim, Rospo! E sabe disso. Pare de fingir só para iniciar conversa. Tem dupla mãe. Tem duas. Aliás, três! A primeira é a natureza. É o planeta, que é mãe. E você sabe, a natureza costuma alertar os humanos anfíbios, às vezes, rigorosamente.
—Quais as outras duas mães, Sapabela?
—Uma delas é a sua, em memória. Nas lembranças das coisas boas que ela deixou.
—Verdade! Nas histórias que ela me contou. Nas noites quando me acalentava, eu em plena febre; no mingau que sabia repartir entre eu e meus irmãos,  talvez a maior socialista do mundo, ali, diante de mim, a realmente autêntica, ao nosso redor, diante da mesa. E na mão estendida com a fatia de pão e manteiga...Como ela esteve presente! Tão presente que nenhum presente daria conta por completo da tentativa de homenageá-la.
—Rospo!, o que uma mãe faz não cabe numa fábula. Pode parar. O importante é que agora compreende que tem uma mãe que pode homenagear agradecendo. Ela está na memória das coisas que realmente importam. E bem sabe: Certamente ela foi a primeira mulher, a sapa primeira, que esteve diante de você a cerzir e um dia, sem que tivesse sequer noção do que via, você certamente reparou que ela aprendera a cerzir em seu próprio rosto as dores e as lágrimas do sofrimento, para ofertar a você um mágico sorriso,  mais doce que o doce de abóbora, aquele do panelão. E quando ela enxugou as lágrimas de seus olhos os estava limpando para que o menininho, tão sapinho ainda, já pudesse ver a porteira da vida.
—É mesmo, Sapabela! Obrigado! Vive me demonstrando o melhor da vida, aquilo que realmente devemos levar conosco, em nossa bagagem na viagem...
—Sapabela é pra isso!
—E ainda faz bolo de cenoura. E se veste toda colorida...
—Já disse a você que minhas roupas não combinam. Mas me visto na alegria de ser. Ninguém dita moda para Sapabela. Fico muda, mas sem medo, se alguém vem me ditar moda. Aliás, bem sabe, a moda que aprecio é a moda de viola. E quem tem um amigo precisa sempre ter um bolo de cenoura, para ofertar, e um bom licor de anis de reserva também vai bem. Tudo isso e outras coisas simples e boas.
—Principalmente as outras coisas.
—É. Pode ser.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo! Falei em moda, mas você não tem modos! Comporte-se!
—Sapabela, somos um acolchoado de aventuras. É incrível que sapos só pensem em aventuras da forma como estão nos grandes romances. O que é bom demais da conta. Mas... Vivemos diariamente um costurar de aventuras, que ninguém sequer liga por serem apenas partes integrantes de nosso cotidiano, fragmentos de vidas autênticas. Seria bom se em nossos viveres tivéssemos a Isolda da alma, mas veja só: viver de forma simples e sincera é a melhor e maior aventura da vida. Não de capa e espada, não de interplanetárias conquistas, mas a aventura de ser e viver em paz e feliz com os seus. Porém, fale da outra mãe.
—É a que você tem ao seu redor, na vizinhança e nas ruas de seu bairro. Em todos os lugares por onde anda. A mulher sapa de cabelos brancos ou a jovem que passa por você, se por acaso for mãe, merecerá o seu abraço, e se não puder abracar, lance um sorriso, ou pelo menos olhe com referência ou reverência.
—Maravilha! Seria bom se todos os filhos pudessem deixar os olhos de sua mãe brilhando de comover....
—Mas não é bem assim. Filhos crescem e se tornam torturadores, ditadores, enganadores...
—É bom saber que não é culpa da  mãe.
—Naturalmente que não. A mãe é uma fortaleza diante do filho, mas se torna desamparada quando o mundo lhe rouba o fruto de seu ventre. Como ela poderá competir com o mundo?
—Então o mundo não é exatamente apenas belo, amiga?
—Rospo, ele é edificado pelos filhos e pelas filhas. Cabe a cada um oferecer a sua contribuição para que esse mundo se torne a cada domingo melhor,
—Quisera todas as mães felizes!
—Eu também, mas já recolhi muito choro de mãe vida afora, Rospo.
—Sapabela. Vamos até a...
—Vamos!
—...padaria Rubi.
—Uau!


ROSPO 2013 — 873

Marciano Vasques

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