quarta-feira, 19 de junho de 2013

O VANDALISMO SOFISTICADO

—Rospo!
—Sapabela! Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que empolgação, Rospo!
—É pelo licor de anis, pelo bolo de cenoura.
—Rospo? Que história é essa? Está me associando com gostosuras? É essa a minha valoração?
—Estou brincando, Sapabela! Sabe que encontrá-la numa noite de sexta, é tudo de bom.
—Hoje é quarta, Rospo!
—É mesmo!  Mas sabe o quanto me faz bem a sua presença!
—Obrigado! Viu alguém deitado em berço esplêndido?
—Não, mas vi uma multidão rasgando ao meio a cidade com uma passeata.
—Que coisa boa, amigo! E tem algo a dizer sobre o vandalismo? Muitos falam mais disso.
—Tem um vandalismo sobre o qual ninguém fala, Sapabela!
—É?
—Sim, o vandalismo oficial, dos governos que promovem uma depredação na alma do povo.
—Agora ninguém segura o Rospo!
—Engraçadinha! Ocorre que eu gostaria de falar um pouco sobre esse outro vandalismo, o sofisticado, bem camuflado, com eventos esportivos, novelas, propaganda, populismo, assim, imperceptível, invisível até, cujo olhar anestesiado pela Rede de TV...
—Menino!
—Então, pela tela que anestesia, não se percebe, mas é danoso, causa estragos irreversíveis. Sequelas na consciência, sofrimento na vida...
—Diga!
—Veja alguns exemplos: um jovem que chega na sétima série e mal sabe ler, ou seja, interpretar um texto.
—Danou-se.
—Agora vou em frente.
—Pois que seja.
—Isso é um vandalismo dos governos do Brejo.
—O nosso Brejil. Mas, continue.
—Só obedeço!
—Querido. Está bem entusiasmado hoje. Dê outro exemplo de abandono, de vandalismo,  como esse da Educação na escola pública, descaso de muitos governantes.
—Povo educado é problema nas hastes do poder.
—Rospo! Outro exemplo, por favor.
—Conduções superlotadas, veja a qualidade do transporte público, não dá mais conta da população; arenas, isto é, estádios construídos com dinheiro público e o povo depois ainda paga ingresso para entrar; uma programação bestial sem critérios e altamente desrespeitosa, causando danos no intelecto coletivo, que deveria se insurgir na multidão com o grito de guerra "Indenização mental, pelos estragos causados ao intelecto".
—Rospo, está delirando! Jamais teremos uma passeata por melhor programação na TV.
—Querida, vou dizer algo: Jamais duvide do Brejil. Nosso brejo tem uma cadência, uma alegria, uma festividade que só ele tem... Tudo aqui pode acontecer.
—Mais algum vandalismo oficial?
—A corrupção, as máquinas administrativas e governamentais trabalhando por candidatos oficiais, o desvio de verba pública, o descaso para com a população, a hipocrisia palaciana, o deboche...
—Entendi, amigo. Nunca havia pensado nisso, Rospo: um vandalismo oficial, dos governantes.
—Sim, e veja que essas manifestações populares, que trouxeram um lúdico colorido na cidade, que maravilha!  Sacolejou o marasmo, o morno da política, que fica nesse discurso de só pensar em 2014, o tal ano CC...
—Que é isso, Rospo?
—Copa e Candidatura!
—Bonito, gostei! Rospo, obrigado por me fazer pensar em algo sobre o qual não havia me dado conta...
—Enquanto você não se dá conta paga a conta sozinha... E não pensou antes, pelo fato de que sempre tem a primeira conversa.
—Rospo! Padaria Rubi?
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que escarcéu é esse, amigo?
—O Sapo sempre fica assim quando a sapa quer aconchego.
—Sei não, Rospo, está muito eufórico. Mas, adorei as tirinhas do ROSPO... Ver Rospo e Sapabela em quadrinhos, bom demais.
—Metalinguagem? Viva! Adoro!
—Eu também! E aproveito pra dizer que aprecio muito quando você interpreta comportamentos... Fantástico! Aquela tira em que aparece fazendo pirueta equilibrando sobre a língua é excelente. Reproduz ludicamente o comportamento de muitos machos que fazem exibições, extravagantes até, para atrair a atenção da fêmea. Pois eu digo algo, eu!, que nasci com o dom de ser companheira...
—Diga, com estilo, como sempre, aliás. De estalo em estalo a sapa finca o seu estilo.
—Pois bem, eu ia dizer que para me conquistar o sapo não precisa se exibir. Nada dessa baboseira que muitos fazem de se exibir com moto, ou modelando o físico ou outros "atrativos"...Não precisa de nada mirabolante, aliás, para me conquistar o básico é ser simples. A simplicidade tem para mim um elevado feixe de atração, sou pinçada no simples, e tem mais, o principal, tem que ter alma, e quer mais?, tem que ter paixão, Isolda!
—Ninguém segura é a sapa!
—Rospo, chegamos! Padaria Rubi, segura um beijo!
—Lançando ao ar um beijo pra padaria, Sapabela?
—Essa é a minha lógica, Rospo!
—Já sei, uma lógica mágica.



ROSPO 2013 —878
Marciano Vasques

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