terça-feira, 31 de agosto de 2010

O LUGAR DO TEMPO

"A borboleta Natali, a última da cidade, entre cinzentos prédios voa, desesperada para se livrar do infernal barulho dos carros.
Se ao menos encontrasse um jardim com crisântemos, mas não, só concreto, concreto, concreto...
Repentinamente, encontra um colibri voando cabisbaixo.
- Por que a tristeza,?
- Não tenho a quem beijar. Sou um beija - flor, lembra? Não encontro flores.
- É mesmo! Esta cidade não gosta de borboletas nem de colibris.
- Não exagera, Natali. É claro que os humanos gostam de borboletas, mas é que eles não têm tempo.
- Tempo para quê?
- Para plantar flores.
- Sei não, mas esse tempo deve estar em algum lugar. Hei de encontrá-lo, mas, que são aquelas coisas em cima dos prédios?
- Antenas, Natali, antenas de televisão. Humanos gostam muito de ficar algumas horas assistindo, às vezes, horas e horas...
- Sei, sei...É em frente dela que Ele está. É aí o seu lugar, em frente à televisão, é aí que muitos o perdem.
- Ele quem, Natali?
- Ora, o tempo. Quem mais poderia ser?
E continuaram voando entre as antenas em busca do tempo perdido... "

- Gostou, Raniere?
- Gostei, Tio Rospo. Conta outra.
- Depois eu conto...
- Está sem tempo agora?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 206

Marciano Vasques

Um comentário:

  1. É bem assim Rospo.
    Os humanos perdem tempo com o tempo.
    E quando perceberem que no seu jardim não há flores e não havendo flores não haverá beija flores.E sem isso a vida fica sem cor.
    É que se dão conta que a primavera já era ...Era uma vez...

    Beijo Marciano.
    Fernanda.

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