domingo, 6 de fevereiro de 2011

A SAPA E AS LUZES DA CIDADE

Lá vai a bonitinha, cheia de coração, pelas luzes da cidade. Parece beber a poesia que despenca feito cachoeira para as almas esquecidas que resistem no lilás do neón.
No caminho, plena cidade, com toda a solidão que isso representa, encontra um velho amigo, que, como ela, preferiu caminhar pelas noites de domingo, para salvar ou pelo menos recolher o que o mundo aprendeu depressa a desprezar.
— Rospo!
— Sapabela, que alegria!
— Passei numa banca e comprei uma revista... Que felicidade é o silêncio da cidade quando o luar passeia sobre os edifícios... Veja, tantos azuis escapando dos apartamentos...
— É a Televisão, minha nega.
— Que bonito, Rospo! Nunca me chamou assim...
— Sapabela, nunca tomamos um sorvete tão tarde...
— Vamos procurar uma sorveteria... Rospo, veja aqueles sapos. Estão apressados... É para não perder o metrô...
— Que maravilha, Sapabela! Estão vindo do teatro... A cidade tem seus encantos, mas a maioria dos sapos permanece com o controle remoto...
— Rospo, estou tão feliz! Como é fácil ser feliz... Como a felicidade está nas coisas simples...
— Sabe, minha amiga, reconheço que hoje vivemos perigosamente. Mas, mesmo assim, os sapos deveriam às vezes caminhar pela cidade à noite...
— Iriam descobrir que a poesia mora perto...
— Veja Sapabela! Uma sorveteria.
— Vamos!
— Seu vestidinho rosa está lindo...
— Rospo, nunca fiz isso, mas hoje quero dizer: a sua camisa azul está linda, e seu perfume tão discreto...
— As luzes da cidade são mágicas...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 424
Marciano Vasques
Conheça também CIANO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog