quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A VERDADEIRA EVOLUÇÃO

— Rospo, onde está o amor? Onde estão os sentimentos?
— Estão em você, Sapabela, estão dentro de cada sapo, estão no coração, o único lugar possível, o lugar onde brotam e crescem os sentimentos...
— Concordo, meu amigo, pois a natureza segue as suas leis. A natureza é neutra, ela só quer existir... Veja esse sapo aqui na fila. Está com uma cobra no pescoço, ela é linda, não é, Rospo?
— Sapabela, só estou aqui para comprar ração para a minha cachorrinha... Não tenho nenhum interesse em ver cobra...
— Não custa nada olhar, Rospo...
— Está bem, mas, o que tem essa "linda cobra" no pescoço desse sapo a ver com a sua conversa sobre sentimentos e natureza?
— Desculpem, vocês estão falando sobre a minha cobra?
— Não, nem pense nisso...
— Estamos falando sim...
— Sapabela, é um cobra! Não ligue, seu moço, minha amiga se enganou. Em nossa conversa não entra cobra. Quer passar na nossa frente?
— Não obrigado, e não precisa ter medo, Sapo...
— Então, diga, Sapabela. Diga sobre o papo de natureza, sentimento...
— Veja só, Rospo. Na minha família tem duas sapinhas, que quando ganharam um hamster, foram totalmente envolvidas pelo sentimento que brotou no coração de cada uma delas.
— E dai?
— Veja os sapinhos desse sapo da cobra. Estão felizes por ele ter comprado quatro hamsters, quatro filhotes de "camundongos"...
— Interessante. Mas estão felizes porque os hamsters representam o alimento da cobra...
— E ela só os comerá vivos, ou seja, se matá-los. Afinal, essa é a sua natureza... E a natureza tem suas próprias leis...
— É assim mesmo, o temporal corta a árvore ao meio, derruba a árvore...E o Sol participa da fabricação dos nutrientes, o sol aquece a vida... Então o sentimento de amor pela árvore só poderá brotar no coração do sapo...
— Isso tudo assusta, não é?
— Não, isso só faz pensar no quanto o sapo evoluiu...O amor, e cada sentimento de amor, são provas inequívocas da evolução do sapo...
— Isso é uma nova teoria da evolução?
— Não sei, sei apenas que só quem ama evolui...
— Bem, a conversa está boa, mas a sapa da caixa está esperando, e essa cobra aqui tão perto está me incomodando. Pague a ração, por favor, e vamos sair daqui...
Na calçada, Rospo comenta:
— Se quiser amar verdadeiramente um camundongo indefeso, não crie uma cobra em sua casa...
— Rospo, mas, veja só, também devemos amar as cobras...
— Sim, Sapabela, só quando aprendermos a amar e a respeitar todas as criaturas do planeta, é que estaremos de fato evoluindo...
— Eu nem sei se amo baratas, Rospo...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 430
Marciano Vasques
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