terça-feira, 8 de março de 2011

CONVERSANDO SOBRE O CARNAVAL

—Rospo, talvez esteja exagerando... sobre o carnaval...
— Estou ouvindo-a. Prossiga, por favor! A palavra é sua, principalmente hoje...
— Talvez exagere sobre o carnaval quando fala em "simulacro"...
— Pode ser. Mas, fale um pouco mais...
— Não pode desconsiderar que numa escola de samba tem, por exemplo, às vezes até 300 crianças entre 8 e 12 anos desfilando num carro alegórico... E 300 sapinhos não podem ser menosprezados... Poderia tentar reparar a alegria e até as lágrimas de emoção na face de cada um...
— Continue, Sapabela...
—  Será que não existe mesmo alegria autêntica num desfile na avenida?
— Claro, com certeza. Quem está desfilando numa escola de samba, está fazendo isso com paixão...
— E então, Rospo? Paixão é tudo! Lembra? Como pode dizer que a alegria autêntica foi embora?
— A alegria autêntica de quem desfila numa escola de samba é deveras a coisa mais emocionante na avenida...
— E então?
— Ocorre que o povo que paga para aplaudir na arquibancada, apenas assiste... Esse povo perdeu o carnaval faz tempo. A alegria espontânea, que nascia do fundo da alma, essa não mais existe... É coisa de outros carnavais...
— Entendo, Rospo, mas não pode ficar preso ao passado. A nostalgia é boa até certo ponto, saudade demais atrapalha a vida no presente... Muitos preferem ser prisioneiros do passado e se esquecem de viver intensamente hoje. Confete, serpentina, bailes dos mascarados, bailes de salão, bailes vespertinos com marchinhas... Nada disso volta. O tempo agora é outro... A alegria se transformou...
— Eu sei, e mudou de endereço...
— Mudou? Para onde?
— Para a tela da TV...
— Não seja tão radical nem tão exigente... Tente viver um pouco do carnaval... Faça isso...
— Está bem, no próximo ano comprarei um ingresso para assistir...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 469
Marciano Vasques
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