O CONSTRANGIMENTO DA SAPINHA

— O amor é egoísta, Rospo?

— Às vezes é estúpido...

— Sim?

— Fui ao Shopping e na passarela da entrada havia um casal de namorados num banco. Estavam num beijo longo...

— Que coisa boa!

— Um beijo bem de novela, assim, de grudar e não largar mais... Enfim, o beijo.

— Maravilha, Rospo...

— Sim, concordo, o mundo será bem melhor quando tiver mais beijos do que armas...Mas...

— Eu já estava esperando pelo "Mas" do Sapo...

— Pois é...

— Então, diga, Rospo...

— Está bem, eu beijo.

—Eu não disse "beijar" eu disse para você falar...

— Veja só, o casal de namorados se beijando naquele beijo longo...

— Essa parte eu já sei, Rospo! Continue...

— E ao lado deles uma sapinha, 9 anos no máximo, provavelmente a irmã da namorada... Precisa ver, Sapabela! O constrangimento da pequena... Como podem fazer isso com uma criança? Como podem fazer isso com uma sapinha? Ela ali, indefesa, desamparada, ao lado do casal, tendo que "assistir" aquela cena, e sem controle remoto...

— Realmente, Rospo. Como deve ter ficado constrangida a pequena... Pobre Sapinha de 9 anos...

— Então, esse "amor" do casal é mais do que egoísta... Beira a estupidez, pois um beijo daquele, que só deve acontecer na privacidade, feriu a infância da sapinha... Que teve que ficar ali o tempo todo, talvez porque a Sapa Mãe a tenha obrigado a acompanhar a irmã mais velha...

— É, Rospo, quase sempre a consciência demora a chegar, mesmo no amor...

— Um beijo que fere a pureza de uma criança é no fundo um beijo triste...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 468

Marciano Vasques

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