sexta-feira, 18 de março de 2011

A VOZES QUE NÃO MORREM

— O sapinho e a sapinha, quando vão à escola, levam a fala...
— E como falam, atualmente!
— Verdade, Sapabela. É um alarido, um festival de vozes, uma profusão... Claro  que nos finais de semanas a escola fica muda, entristecida, perde o sentido, pois o sentido da escola é essa vozearia... A alma da escola é esse emaranhado de timbres...
— Balbúrdia sonora, às vezes, mas, que encanto!...
— Sapabela... Tem uma coisa...
— O que é, Rospo?
— As vozes ficam impregnadas na escola...
— Nas paredes?
— Em todos os cantos... Até nos gizes... giz costuma estar repleto de vozes...
— Está bem... Mas, bem, quando uma sapinha ou um sapinho, vai embora... A voz se foi...
— Engano seu, Sapabela.
— Posso fazer um escarcéu, Rospo?
— Pode. Adoro alaridos...
— Viva! Um engano! Viva! Eu me enganei!
— Está bem, chega, Sapabela! Essa sua exaltação, essa sua comemoração já está virando um escândalo... Veja os Sapos que estão na praça. Todos olham, incrédulos...
— Rospo, você não se importa com isso... Alegria é para comemorar, quem sentir inveja ou se espantar, que trate de se alegrar...
— Eu sei, Sapabela. Mas você costuma exagerar...
— Aprendi desde cedo a gargalhar, e não posso me arriscar a perder uma chance de comemorar...
— Entendo, mas vamos ao nosso assunto... Você disse que uma sapinha ou sapinho, quando vai embora, a voz também deixa a escola... Não é bem assim... Pode o tempo passar, pode o calendário mudar... Mas quem tiver os ouvidos atentos, quem aprendeu a ouvir com o coração, há de reparar e sentir, que as vozes de antes estão noutras vozes, as vozes de um ano letivo que acabou, sempre retornam nas novas vozes...
— Entendo, sapinhos e sapinhas que passam pelo portão da escola, trazem de volta as vozes que enfeitaram a escola de vida...
— Sim, timbres vão, timbres vêm, e o velho alarido, na escola permanece. Pois vozes de crianças representarão sempre a renovação da vida... Mesmo assim, todas falando ao mesmo tempo...
— Rospo, passar diante da escola e ouvir esse alarido imenso é uma forma de se rejuvenescer, de se revigorar, de tornar o espírito sempre mais jovial?
— Sim, a voz de um sapinho é o espírito da época a nos piscar... E é por ela que devemos nos orientar... Ou seja, aperfeiçoar o nosso "ouvir"...
— Cigarras, crianças... O Sapo tem realmente muitas oportunidades de melhorar o seu "Ser".

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 484
Marciano Vasques
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