CORRENDO NA NOITE DE OUTONO

— Rospo! Rospo! Rospo! Vem! Vem para fora! É noite de Outono. Outono, Rospo! Outono! Vem, senão a noite vai embora... E você sabe, uma noite é sempre única...

— Sapabela, pare de escândalo! A vizinhança está assistindo à TV...Pare de gritar!

— A vizinhança na TV e você blogando...

— Sim, são canções.

— Rospo, sei que canções são necessárias, mas, veja pela sua janela...

— É ela! A noite de Outono...

— Se você a perde, Rospo, depois não adianta disfarçar uma lágrima sequer com o vento... Você sabe, quando a noite passa ela não retorna...

— Eu já vou, Sapabela. Mas hoje é sábado, e meu blog é só música...

— Eu sei, meu querido, mas tem o sorvete e tem o luar e tem o Outono e a noite está passando...

— Sapabela, irei sim. Num instante estarei na calçada...

— É o Rospo que eu conheço...

*

— E então, Rospo? Postou uma canção no seu blog?

— Um montão, Sapabela. Um montão...

— Mas vamos que a noite é uma canção...Dê a sua mão, vamos correr um pouco, só um pouquinho...

— Sapabela, vão pensar que somos loucos...

— Mas eu estou enlouquecida de Outono, Rospo! Vamos! Não seja acanhado. Vamos ao sorvete...

— Sapabela, você é demais...

— Fale algo mais consistente...

— Você é uma flor de Outono...

—  Melhorou. Mas não sou flor de vaso nem de jardim, sou flor do mundo... Só sei andar e correr e falar e dançar e vibrar e cantar e rodopiar e sorrir e viver...

— Sapabela, você até me faz pensar: se pudéssemos segurar a noite... e parar o tempo...

— Não teria graça, Rospo. A graça está em saber que a noite está passando e nós não a estamos perdendo...

— Tchau, linda noite de Outono! Que suas estrelas fiquem para sempre nos corações puros...

— Tchau, nada, Rospo. Ainda tem noite pela frente... E lá vamos nós... Qual o seu sabor preferido?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 528

Marciano Vasques

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