quinta-feira, 21 de abril de 2011

A FALTA QUE SE FAZ

— Ao luar, Sapabela se inspira em conversas interessantes...
— Caro amigo, cá estamos caminhando à beira do cais do porto. E tenho um pensamento querendo virar pergunta.
— Pois que seja, Sapabela.
— O que acontece quando um sapo e uma sapa que se amam resolvem se afastar, alegando que o amor é justo, e por essa condição do amor, se continuarem juntos outros corações serão feridos e sangrarão na dor de serem arrancados de si.
— Em telenovelas, em fotonovelas...
— Rospo, não enrole! Fotonovela é coisa do passado... Vá direto ao eixo.
— Às vezes para ir direto ao mar é necessário descer uma serra em curvas...
— Mas se o conheço bem, estará é subindo uma cordilheira...
— Sapabela. O amor nem sempre, ou seja, quase nunca é justo...Considerando que em sua mansidão ele exige para si toda fúria, que é a fúria de todos os tempos, de todos os temporais, todas as ventanias... Considerando isso tudo...
— E às vezes ventanias de poeira, que cegam os olhos...
— Diante disso, minha amiga, quando um sapo e uma sapa decidem se afastar, um representará para o outro a falta que se faz.
— Isso pode até soar poético, mas, diga, Rospo, tem sentido uma vida amputada assim?
— Sapabela, talvez esteja dimensionando esse sentimento... O amor tem várias fases em seu amadurecimento. Da forma tempestuosa como ocorre no coração de um adolescente...
— Rospo, para mim não tem essa graduação... Amor é amor e pronto. E nem precisaríamos do amor se fosse apenas para garantir a continuação da espécie. Mas não somos apenas seres de procriação...
— Concordo plenamente. O amor foi a mais importante invenção do espírito anfíbio... Porém ele é mesmo exigente em si, e quem ama sabe que às vezes é preciso atravessar o caos para se chegar ao cais...
— Quero mesmo saber se tem algum casal que renunciou ao amor por uma causa justa...
— Sim, Sapabela, com certeza muitos já transformaram o amor na falta que se faz.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 536
Marciano Vasques
Leia CIANO

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