quinta-feira, 21 de abril de 2011

NO TAL CALDEIRÃO DO AMOR

— Rospo, conhece ou já ouviu falar de algum sapo que compreende o pensamento de uma sapa?
— Também já andei vasculhando para encontrar uma sapa que compreenda o pensamento de um sapo.
— Rospo, claro que não é bem assim. Sapos e sapas se entendem, sim. O que ocorre é que são diferentes. Vamos só ao caso de fazer amor...
— Iupi! Iupi! Iupi!
— Rospo! Fazer amor será o tema da nossa caminhada...
— Naturalmente, Sapabela.
— Vamos começar pelo sapo.
— Bom começo. Boa escolha. Considero que as sapas ainda se aperfeiçoarão ao ponto de serem como os sapos.
— Muito engraçadinho, Rospo. Mas, quero falar sério. Veja só: sabemos que os estímulos de um sapo são primeiramente visuais...
— Concordo, Sapabela, e o olhar do sapo é sempre direcionado. Falando nisso, lindo o seu vestidinho. Estampado, florido, flores azuis, e esse verde exuberante...
— O verde já não faz parte do vestidinho, Rospo!
— Bem, Sapabela. Vamos ao assunto.
— Interessante, Rospo, você desvia e depois se apruma, não é?
— Realmente, Sapabela... mais de 70% dos estímulos no sapo são visuais...
— Mais de 90%, não é, Rospo?
— É, pode ser. E a sapa é mais movida pelo toque...
— Somos mais sensações, e não temos um centro de prazer. Entende, não é? A natureza concentrou todo o prazer do sapo num único membro, mas nós não. Nós, ora, nós, as queridas sapas, apreciamos e nos sensibilizamos às vezes com um toque suave nos cabelos, na pele...
— Correto. Mas sobre o tal centro do prazer, não é bem assim. A questão é que os sapos, em sua maioria, foram educados para que cada um ignore a si mesmo, e cada qual desconheça o seu próprio corpo e se concentre no falo, entendeu? Provocou eu falo. Mas, prossiga.
— Bem, que seja até uma construção cultural, mas é assim que se é. E diante disso, por isso em nossas mentes é possível até se amar no escuro...
— Escute aqui, dona Psiquê. Um sapo se amando no escuro? Ora!
— Por isso é necessário que o sapo entenda a sapa e ela compreenda que o mecanismo de funcionamento da mente, ou do corpo, do sapo...
— Isso não impede que entre os dois sempre haja carinho...
— Sabe, Rospo, tem sapo entornando o caldeirão de tanto mel, que se lambuza todo...
— Qual a metáfora toda?
— Muitos sapos garotões estão imitando as filmagens montadas na Internet e submetendo as sapinhas aos fazeres degradantes no amor...
— Não tem uma ponta de moralismo nesse seu pensamento, Sapabela?
— Absolutamente não, Rospo. O que eu quis dizer é que aquilo que se tornou forçado para um só realiza o ego da suposta supremacia do outro, o que no fundo é uma bobagem, visto que entre um casal tudo pode acontecer de forma natural e espontâneo quando os dois se amam...
— Sapabela, suas reflexões são sempre pertinentes, para mim... E também concordo. Um tem que compreender melhor o outro, saber como o outro funciona... Esse é o princípio elementar: conhecer o outro.
— Mas para isso é preciso seguir o oráculo do tempo...
— Fale sobre isso, Sapabela. Quem é esse tal?
— "Conhece-te a ti mesmo!".
— Entendi. Primeiro saiba sobre você. Depois vá até ao outro... E é assim que as coisas darão certo. E será fascinante velejar num caldeirão de mel. Vamos?
— Vamos aonde?
— Procurar um sorvete. Afinal é sábado.
— Não é sábado, Rospo, é um feriado!
— Sorvete duplo então.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 —  537
Marciano Vasques
Leia CIANO

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