quinta-feira, 21 de abril de 2011

VIDA NÃO DESENHADA

No quiosque os dois amigos continuam conversando.
— Sapabela, conheci um sapo que adorava desenhar.
— Fale sobre ele.
— Tinha um talento nato, pertencia a nata dos que nascem com um dom, depois foi treinando, aperfeiçoando, isto é, desenhando...
— Sei, como era antigamente... igual ao violão, dedilhava-se, dedilhava-se, e também a datilografia, lembra da datilografia?
—É, as coisas mudaram, Hoje existe o Power Point... No computador desenha-se tudo...
— Mas tem sapo que ainda prefere as pétalas aquareladas...
— Bem, deixe-me continuar falando do sapo que eu conheci. Ele desenhava muito, mas a vida dele foi muito difícil... Parou de desenhar no dia em que viu que não tinha dinheiro para comprar tinta nanquim...
— Vida de artista quase sempre é difícil...Mas, que pena que ele tenha desistido...
— Que pena gloriosa ele era! Cada traço...
— E por onde ele anda agora?
— Não sei. Mas gostaria de encontrá-lo...
— É verdade. Sabe, Rospo, você me fez pensar. Esse sapo é uma vida que a vida não desenhou.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 539
Marciano Vasques
Leia CIANO

2 comentários:

  1. "É uma vida que a vida não desenhou."
    Me fez pensar em quantas vidas não desenhadas...triste não?
    Luz
    Ana

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  2. Sim, Ana Luz,
    É triste.
    Quantas vidas não desenhadas... Quantos sonhos que a vida desfez... Quantos abandonos...

    Marciano Vasques

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