segunda-feira, 16 de maio de 2011

CHAMPANHE NA TAÇA DE OURO

Sapabela, sabia que tem sapa que sonha dia e noite em brilhar na alta sociedade?
— Fale, Rospo, estou muito curiosa sobre esse assunto...
— Sem esse sorrisinho, Sapabela. Isso é sim muito importante: falar de alguém que só toma champagne em taça de ouro em nossa época é algo que deveria despertar o interesse de todos...
— É verdade, e causa inveja nas concorrentes, por ser mais magra, mais jovem e mais linda... Gasta tanto dinheiro, Rospo!... Uma sapa assim é a demonstração de que o dinheiro é a coisa mais assombrosa do mundo...Tem sapa que gasta numa compra o que um trabalhador levaria uma década para ganhar com o seu suor...
— Sapabela, cada um faz o que quer com a sua vida e a sua consciência...
— E o seu dinheiro...
— Tem sapa que se sair sem um brilhante pendurado sente-se pelada.  Você já sonhou em brilhar na sociedade, Sapabela?
— Rospo, eu sou fascinada pelas coisas que brilham para mim...
— Fale sobre pelo menos uma delas, minha amiga.
— São coisas que nenhum dinheiro pode comprar...
— Dê um exemplo...
— A poesia, pois como bem sabe, nenhum dinheiro poderá comprá-la. É por isso que ela vive para sempre e resiste ao tempo...Uma poesia é para sempre. Veja só, uma socialite pode comprar apartamentos, joias, aviões, pode até comprar todas as livrarias da cidade, e todos os volumes de poesias e costurar cada um com ouro, mas a poesia, isso ela não comprará...
— Bravo, minha jovem. A vida é tão imensa e ao mesmo tempo tão curta.
— É curta em sua jornada, em sua passagem, mas é imensa porque pode ser vivida intensamente... Porém isso requer arte, a arte da simplicidade...Eis algo que o dinheiro não compra, a simplicidade...
O que significa essa loucura de querer brilhar na sociedade a todo o custo, Rospo?
— Significa que o sapo ou a sapa é dirgido por uma patologia da alma, uma disfunção, uma deformação, uma anomalia...
— E o dinheiro não cura isso?
— Não, Sapabela. A sapa já está cravejada de brilhantes que ofuscam o seu pensar, e não tem retorno. Para retornar, teria que redescobrir a beleza das coisas simples que passam, simples como uma flor, mas como uma flor para se mostrar simples é formada pela mesma complexidade universal que está presente em tudo... ela  não terá mais o alcance do retorno... Já foi arrastada pelo dinheiro na correnteza rio abaixo...
— Rospo, que triste! Como uma socialite é pobre!
— É o grau zero da pobreza...
— Meu amigo, tudo bem, mas cada um faz o que quer da sua vida. Cada um traça os seus próprios objetivos na vida. Se uma sapa se realiza tomando champanhe em taça de ouro...
— Concordo, Sapabela...Mas... Uma taça de ouro com champanhe... nas mãos... será apenas isso.
— Será que uma sapa assim irá sentir inveja de mim, Rospo? 
— Creio que não, Sapabela. Você está cravejada de brilhantes, mas esses brilhantes são internos, estão em sua alma, em seu coração, e como são internos, ela não conseguirá ver. Fique tranquila. Você está livre da inveja dela...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 575
Marciano Vasques
Leia CIANO

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