sexta-feira, 3 de junho de 2011

O SILÊNCIO VALE OURO?

—Rospo, o silêncio vale ouro?
— Às vezes sim. Quando ele representa a nobreza da alma... Quando ele se torna o melhor investimento...
— Mas nem sempre, não é?
— Nem sempre. Por exemplo: quando a chegada de um poeta num grupo já fixo de poetas...
— Isso vai ser bom.
— A chegada de um poeta pode representar um terremoto, e às vezes terremotos causam perplexidade e silêncio... Então, quando o silêncio entre os colegas tenta fazer de conta que esse poeta não existe... Esse silêncio não vale ouro.
— Discordo!
— Sapa discordando muda o rumo da conversa...
— Esse silêncio dos companheiros sobre o reconhecimento de um poeta "de fora" do grupo vale ouro, sim...
— Explique essa discordância...
— Vale ouro por refletir de forma exuberante a alma do espírito de grupo, do coletivo... Vale o nobre metal pelo fato de que é um silêncio revelador e estimulante... Quando acontece isso, um sapo poeta não deve ficar triste... Deve ao contrário, compreender que esse silêncio é o seu maior impulso, o seu maior estimulante, e ao mesmo tempo diz que ele deve prosseguir, seguir em frente, ir à luta, revigorar-se a cada dia, escrevendo cada vez mais, e direcionando os seus poemas para o leitor... Que sinceramente, colherá os seus versos com afeto e zelo...
— Está certo, Sapabela. Nesse sentido todo silêncio vale ouro. Não! Não é bem assim... E o silêncio da mulher que é oprimida em casa, e o silêncio imposto pelas ditaduras?....
— Nenhum silêncio será em vão, Rospo...  Cada silêncio de opressão é uma articulação dolorida que sonha com a liberdade...
— E o som do silêncio?
— Sim, trata-se do silêncio almejado, do silêncio procurado, aquele das onomatopeias da alma, aquele que nos devolve para a harmonia universal, o silêncio que nos enriquece, que nos faz sentir as vozes que pairam nas prateleiras empoeiradas das bibliotecas...
— Tem quase razão sobre as prateleiras, mas esse silêncio que resgata as vozes dos espíritos encantados hoje também está na rede... está na infinita biblioteca virtual...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 601
Marciano Vasques
Leia em CIANO

Um comentário:

  1. "Esse silêcio que resgata as vozes dos espíritos encantados.." diz coisas tão lindas,
    Adoro!
    Luz
    Ana

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