quarta-feira, 1 de junho de 2011

NÃO TREMA NEM TREMA

— Tremi, Sapabela.
— Tremeu, Rospo? 
— Sim, tremi quando soube que iriam tirar o trema da nossa Língua. Eu era um dos sapos que sentia muito orgulho em saber usar o trema... Mas veio essa reforma ortográfica inócua, quer dizer, quase assim, não é? E veja só: ficamos sem o trema, que é um dos encantos da Língua. Cada idioma, com suas declinações, suas especificidades é que apresenta aos olhos do mundo que lê os seus encantos, o seu tesouro, por isso tremi de desilusão quando arrancaram o trema da nossa Língua...
Veja que coisa, o meu amigo foi para o espaço, as belezas e as raridades de nossa Língua estão indo para o espaço... Aos poucos, o que era belo vai se desbotando...
— Rospo, me percorreu um calafrio na alma. Pare de exagerar... Senão, já sabe,  alma descuidada no começo vira lama... Não me entristeça, sabe bem que entristecer é entrelaçar linhas, fiapos de tristezas... Eu também gostava do trema... Aliás, só um pouquinho aqui, vai, por favor?   
— Não pode, tiraram, Sapabela.
— Só assim: Ü.
— Está bem, choramingona...
— Sabe, Rospo, tente olhar algo de positivo. Passe a pensar assim: Portugais irão se unir num coração alardeado de letras, corações embandeirados num infinito varal de palavras...
— Sapo que sonha equaciona até as perdas...
— Com o tempo e os vendavais de poeira e a fumaça aprendemos a administrar.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 597
Marciano Vasques

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2 comentários:

  1. Eu tamb'em achava lindo o trema, muito triste tudo, parecem que estao querendo um mundo sem beleza...
    Luz
    Ana

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  2. Ana,
    Já pensou? Valsar no brejo com a Sapabela e o Rospo? Que entardecer inesquecível!
    Um abraço,
    Marciano Vasques

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