sábado, 10 de setembro de 2011

AMOR NÃO PRECISA DE PLEONASMO

Rospo encontra um amigo.
—Como vai, Rospo? E aquela sua amiga?... Esqueci o nome dela.
—Eis um sapo problemático.
—O que disse?
—Nada importante. Veja só, meu amigo: o estádio que estão construíndo. Já pensou? Além da abertura da Copa de 14, depois virão os shows. Todos os cantores em final de carreira na Europa e nos EUA virão aqui, se apresentar. Nós merecíamos.
—Sei não.
—Ora, meu amigo. Que maluquice é essa de "Sei não"?
—O trânsito que virá, os carros, aquele excesso de sapos quando tiver algum jogo, algum festival... Muito barulho, sapos novos no pedaço, muitas sapas na área desviando os caminhos...
—Ora, meu amigo, digo novamente... Precisa entender uma coisa: tudo na vida é como um amor, um grande amor. Aliás, existe amor pequeno? Tchau! Nosso conversa foi boa. Mas preciso ir.
—Isso foi conversa, Rospo?
—Era para ser, mas, bem, preciso ir.
Logo adiante Rospo encontra a Sapabela:
—Rospo! Que saudades!
—Sapabela, seus olhos estão numa vivacidade só, parece até que colheram todas as cores do sábado. E esse vestidinho, lindo, rosa com flores verdes, e também esse esmalte, que bonito! Um lilás acanhado, discreto, suave. E você, minha amiga? Por onde anda?
—Apreciando a vida, contemplando a construção do novo estádio...
—Alguns reclamam, dizem de coisas que virão, como o trânsito, os carros, os sapos circulando...
—É assim mesmo.
—Esquecem que na vida tudo se assemelha a um grande amor.
—Rospo, para que o pleonasmo?
—Como assim?
—Não precisa ser redundante. Não precisa pronunciar o "Grande", pois o amor sempre é naturalmente grande, ou então, não é.
—Tenho a impressão de que já havia dito isso.
—E então?
—Lindos olhos... Rosto que expressa ternura, doçura, e ao mesmo tempo coragem...
—E então?
—Vestidinho rosa com tonalidades azuis num florido único, expressando a sua eterna primavera interior.
—E então?
—Está esperando que eu diga algo, Sapabela?
—Sim, fale dessa coisa do amor.
—Veja só, Sapabela, com o amor vem os cravos e as espinhas...
—E às vezes, rosas, às vezes espinhos.
—Então, pois é, ninguém vai recusar um grande, ops, um amor, pois afinal, que importam os cravos e as espinhas no rosto? Ou os espinhos na alma?
—Das rosas você não falou, não é, espertinho?!
—É que as rosas sempre importam.
—Cartola iria adorar ler essa história.
—Sem metalinguagem, meu bem. Entendeu?
—Claro, Rospo! Sou Sapabela, lembra? O amor nem sempre é ensolarado ou enluarado, às vezes chove....
—Tempestades...
—Granizos...
—Granizo? Nossa! O coração fica geladinho, tremendo num frio insensato, sem um cachecol de amor que seja...
Sapabela, digo algo mais...
—Hoje é sábado, meu querido, e sabadoficando, sou toda ouvidos....
—O amor só não admite uma tempestade de granizo...
—Qual, Rospo?
—A indiferença.
—Essa realmente encharca a alma... O coração fica ensopado...
—Isso ninguém tira de letra. Duvido que tenha uma sapa ou um sapo que resista a uma indiferença.
—Rospo, tanta conversa só me deu uma vontade... Sorvete!
—Conversa, com verso, com sorvete! Viva o Sabádo.
—Vamos, meu amigo. E... que estádio lindo!
—Lindo mesmo, um verdadeiro vestidinho para um coração boêmio...
—Rospo, vá caçar sábados. Só fala no meu vestidinho....
—Gostaria de vê-lo num varal, ao sabor da ventania....
—Entendi, e eu esperando ele secar.
—Com outro vestidinho, claro.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 667
Marciano Vasques

2 comentários:

  1. ADORÁVEL!
    Bjos, Kalanga Brazil

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  2. Que bom voltar e ler ... amor, pleonasmo,vestidinho rosa, sorvete e sabadoficando. Para mim tudo isso é a mais pura forma de amor.
    Luz!
    Ana

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