quarta-feira, 7 de setembro de 2011

AS BOLHAS DE SABÃO

Na copa de cada árvore, estourando nos fios, nos telhados, entrando nos quintais, nas varandas, lá no alto, na roda gigante do parque de diversão, nas janelas dos edifícios, explodindo nas antenas. Namorados interrompendo abraços, amantes abrindo as janelas. A cidade transformou-se numa multicolorida chuva de bolhas de sabão. O homem sério e carrancudo assovia uma canção, um gari recita um poema, num balcão de bar um bêbado chora de saudades. Todos deixam as suas casas, os seus afazeres; nos circos os espetáculos são interrompidos pela invasão de milhares de bolhas de sabão, e os palhaços saem para as avenidas com suas roupas coloridas, e os malabaristas são seguidos por dezenas de crianças; em cada cinema, diante da tela, a profusão de arco-íris. E as pessoas deixam os seus escritórios, e estão nas calçadas da Avenida Paulista. Nunca se viu tantos celulares fotografando... O guarda de trânsito suspende o olhar, encantado com a visão. "De onde está vindo isso?"— pergunta um pipoqueiro. E como já é feriado, em todos os rostos brotam sorrisos jamais vistos. Um homem acaricia pela primeira vez o seu cão. E as bolhas de sabão lavam os sentimentos atrofiados e os corações desocupados pela falta de namoro, e um pai diz pela primeira vez para a filha adolescente, que sempre sentiu falta do sorriso dela alegrando a casa. E um pedreiro enquanto prepara a massa, tamborila no cabo da enxada um rock in roll, e um marido elogia pela primeira vez o vestido da esposa, e um outro convida a mulher para tomar um sorvete e caminharem pela cidade. E um vizinho pela primeira vez presta atenção num samba. E lá, numa praça, sentadinha num banco, sossegada, na sua, a menina, a menininha, continua com seu canudinho, soprando as bolhas de sabão.

2 comentários:

  1. Rendo-me a esta visão onírica repleta de magia. Pois que se multipliquem as bolhas de sabão que a criança, com a sua inocência, vai soprando ao mundo.

    um forte abraço amigo.
    oa.s

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  2. Mágica, a vida
    apenas necessário enxergar as coisas simples contidas em cada momento efêmero
    feito bolhas de sabão

    Abraço daqui!,

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