—Sapabela! Que alegria! Que felicidade! Faz tempo não a via com um vestidinho assim florido e repleto de cores. Que lindeza, minha joia!
—Fico feliz por causar esse alvoroço em seu coração.
—A sua chegada sempre será motivo de alegria em minha alma.
—Não apenas por causa do vestidinho, claro.
—Naturalmente que não, mas o vestidinho faz parte do universo que você é nesse mundo carente de poesia e festas.
—Gosta de festas, não é, Rospo?
—Os sapos deveriam festejar mais, tudo deveria ser motivo de festejos, afinal, sempre haverá um momento em que não se poderá mais festejar, só chorar, então, todos os momentos devem ser deveras festejados.
—Gostaria de viver num momento só de festas, algo assim como um “Reino Tiquatira”?
—Sapabela, na verdade, gosto de viver no mundo, e o mundo é justamente aqui, onde estamos, no único tempo que realmente existe, que é o agora, o tal “instante que passa”. Precisamos enlaçar esse instante: é a primeira atitude para se viver feliz. E o “Reino Tiquatira” é também um reino de lutas, de princesas desamparadas e sapos jovens perdidos nas ruas estreitas...
—Rospo, mudando de foco, quero falar de namorados, de namorantes, de coisas boas.
—Estou todo aqui, Sapabela.
—É possível que um sapo não consiga compreender com exatidão a dimensão do amor que uma sapa sente por ele?
—O mesmo se pode dizer da sapa, pois é um hábito dos corações, infelizmente, se deixarem agarrar pelas pequenas bobagens do dia a dia, e perderem de vista o oceano que é o amor que sentem, e então, nesse emaranhado ficam se acusando, e encenando briguinhas e esquecendo do amor que implora para resistir.
—Nossa! Acredita que uma sapa é “boazinha” quando vai sempre ao sapo?
—“Boazinha”? Não! A Sapa vai por amor, não por ser boazinha. A sapa, assim como o sapo, os dois, devem sempre correr um para os braços do outro, se conseguirem vencer as bobagens que a imaginação cria.
—Imaginação? Mas, a imaginação é uma coisa boa!
—Depende do que ela desencadeia, depende para onde ela é direcionada.
—Até a imaginação exige esmero?
—Claro! A imaginação é a riqueza das crianças, mas entre os namorados pode ser extremamente perigosa e destrutiva...
—Vai ter que explicar.
—Ora, Sapabela, é simples. Quando um começa a ver no outro coisas que de fato não existem, quando um dos parceiros tira conclusões apressadas, e cria um mundo na imaginação, um mundo no qual o outro “só faz coisas erradas de propósito”, ou por causa de algumas supostas atitudes, “não tem mais o amor no coração”. Namorados são, na maioria dos casos, cabeçudos. Aliás, bota cabeçudo nisso!
—O que é um sapo, Rospo?
—Um sapo é integridade, Sapabela. Ele é poesia, é erotismo, é desejo, é uma soma de imperfeições que desembocam na personalidade única de cada um; nenhum sapo será jamais igual ao outro, e um coração jamais será globalizado.
—Entendo. Então, cuidar da imaginação é importante?
—Sim, entre os namorados sim.
—Então, só para terminar: a imaginação deve ser rejeitada entre os namorantes?
—Jamais, Sapabela! Ele deve ser educada, esmerilhada, lapidada, aperfeiçoada e canalizada, ou seja, é sempre bom imaginar o outro numa varanda enluarada, num aconchego de águas espumosas num entardecer azul...
—Não precisa dizer mais nada.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 662
Marciano Vasques
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