TÔ SABENDO NADA DE MIM

—Hoje é sábado! Tô sabendo nada de mim...

—Vejo que está feliz, Sapabela. Mas não seria: “Ninguém é de Ninguém”?

—Isso foi ontem, sexta-feira. Sábado é assim: “Tô sabendo nada de mim”.

—Mas hoje é domingo, Sapabela!

—É? Nossa. Acordei “de sábado”.

—Esse é o vestidinho de sábado?

—Gostou?

—Ainda bem que o vestiu hoje, no domingo. Você sabe: Hoje é domingo, pede Sapabela...

—Rospo!

—Diga, linda.

—Pode uma louca saber se está mais louca?

—Não, mas adoro certas loucuras.

—Sim, sou uma louca, Rospo.

—Fale dessa loucura, Sapabela. Toda loucura vale a pena.

—Sou louca por sorvete, por poemas, por ver crianças brincando, por roupas que não combinam, por casas azuis, por mares e festas, por ler as minhas histórias, aquelas que escrevi e guardei, sou louca pela amizade, pelo amor, por todos os sentimentos que movem o mundo, sou louca por sapos sinceros, por sapos que curtem uma gentileza, por sapos que guardam a sua alma numa caixa de sonhos de valsa, sou louco pela música simples que fala da alegria, dos amores, das dores, das paixões não resolvidas, sou louca por...

—Sapabela, que essa sua loucura seja cada vez mais abençoada pelas estrelas e por todos os astros errantes, que como você, vão espalhando luzes.

—Rospo, você é um amigão.

—Sou apenas alguém que sabe aproveitar as coisas essenciais... E investir numa amiga assim tão louca é a minha maior esperteza.

—Que fascinação!

—O que disse?

—Nada. Vamos ao sorvete?

—Vamos, o meu eu quero com sabor de domingo.

—O meu eu quero triplo.

—O que é isso, Sapabela?
—Sabor de sexta, sábado e domingo.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 671

Marciano Vasques