segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ENTRE CONVITES E CONVITES

—Como a semana está demorando a passar!
—Sapabela! Hoje é segunda-feira!
—Amanhã não é sábado?
—Não, minha lindinha. É terça.
—É mesmo. E então, Rospo, como vai você?
—Muito bem, e estou feliz. E você, pelo jeito também.
—Estou demonstrando felicidade?
—Os sintomas são visíveis.
—Sintomas? Isso não é coisa de doença?
—Veja Sapabela. O seu vestidinho, essa expressão facial de sorriso, essa cadência no andar.
—Sou uma sapa, né, Rospo!
—Verdade. Como me encanta o andar cadenciado de uma sapa. É um de seus tesouros. Só a sapa tem tal cadência.
—Que mais, Rospo! Que mais? Quero saber.
—Ora, Sapabela. Você já sabe, e muito. Mas quero falar da sua expressividade da felicidade.
—Tem certeza de que estou mesmo feliz, Rospo?
—Tenho. A felicidade está no ar.
—São as escolhas da vida. A cada nova escolha a felicidade vai tomando forma.
—E qual foi a sua nova escolha, Sapabela?
—Libertar-me. Sinto-me feliz por sentir o gosto da liberdade.
—Do que se libertou, Sapabela?
—De algumas inseguranças. Compreendi que a sapa não pode ser insegura. Ela não pode vacilar. Tem que ser firme consigo mesma.
—Sinto por você uma admiração profunda, Sapabela.
—Eu sei, Rospo. A admiração é o aceno do amor.
—Não entendi.
—Mas vai entender. Agora, pense no mar azul, sempre azul.
—Estou pensando, minha amiga. Você me leva ao mar, sem sair do lugar.
—Rospo, é curioso. Milhões de sapos estão no mundo nesse exato momento tentando ajustar as formas da amizade, e muitos já compreenderam que é o maior investimento na vida de alguém. Com a amizade, um sapo não precisa temer a felicidade.
—E alguém, por acaso, vai temer a felicidade?
—Ora, Rospo! Muitos sapos preferem a tristeza, a sombra, pois a felicidade ressalta o ser, destaca, e isso causa ciúmes e inveja.
—E você se importa com isso, meu bem?
—Eu? Eu quero é mais cultivar as minhas amizades, e gosto de começar logo na segunda. Que tal um cinema hoje à noite?
—Já aceitei! Deixe-me retribuir.
—Retribuir?
 —Claro, convidado convida.
—Já aceitei.
—Mas nem convidei ainda!
—É um sorvete, não é?
—É o meu convite.
—Rospo, encontrei um poema novo de Ferreira Gullar. Quero que o ouça. Vou recitar para você.
—Aceitei o convite, Sapabela.
—Que convite?
—Convite para enriquecer a minha alma.
 —Então, vamos, caro amigo. Sorvete, poesia, tela. E viva a Segunda-Feira.
—Pois é, Sapabela. A segunda está além do expediente.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011  —  691

Marciano Vasques

3 comentários:

  1. Adorei! Eu, assim como a Sapabela, comecei minha semana escolhendo ser feliz.
    Tenha uma ótima semana
    Abraços

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  2. "A admiração é o ocano do amor"Perfeito!
    Este é um belo convite para enrquecer a alma..
    luz!
    Ana

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  3. A felicidade dá brilho no olhar.

    Lindo, como sempre.
    abraço
    oa.s

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