quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CONVERSANDO NA BEIRA DA NOITE

—Sapabela!
—Rospo! Que euforia é essa?
—Você vai vibrar!
—Só vibro ao vivo e em cores.
—Não entendi.
—Está bem. Mas, conte-me a novidade. Estou curiosa.
—Conheci uma amiga sensacional.
—Estou muito curiosa. Jamais tive tanta curiosidade.
—Posso contar?
—Conte, minha curiosidade é infinita.
—Assim me deixa sem jeito, Sapabela.
—Como posso deixar sem jeito quem não toma jeito?
—Não estou entendendo você, Sapabela. Parece tão irônica. Eu disse algo errado?
—Imagina! A minha curiosidade tem uma paciência infinita.
—Sei não, Sapabela, estou sentindo que é melhor mudar de assunto.
—É o seu instinto de sobrevivência.
—Foi tão grave assim?
—Meu querido, você conhece tão bem a alma feminina, mas às vezes me surpreende.
—Devo ou não contar afinal?
—Se não contar, como irá conseguir dormir, Rospo? Fale então da sua amiga sensacional. Se é sensacional, por acaso o seu nome é Sapabela?
—Sapabela, você é única!
—Por acaso, recolhendo os cacos?
—Bem, vamos lá. Deixe-me falar da minha amiga. Ela é casada com um sapo bem possessivo.
—O que tem a ver esse detalhe, Rospo?
—Nada, só para você saber mais sobre ela.
—Deve estar brincando!
—Sapabela, estou sentindo um pouco de ciúme em você.
—Ciúme? Ora, Rospo! Sou uma sapa autêntica. E sapa autêntica não convive com deselegância. Você foi muito deselegante ao pensar que numa noite de quinta, o dia de Thor, dia do trovão, eu iria estar disponível para ouvir você falar da sua amiga sensacional.
—Ela não é 100% feliz no casamento.
—Rospo, estarei lá na esquina?
—Não, não estou vendo o Rospo lá.
—Está bem, entendi. Só queria falar da sua amiga, e  marquei bobeira na atenção.
—Bonito o esmalte.
—Que mais?
—O vestidinho...
—Que só a mamãe aqui tira.
—Está muito prevenida, Sapabela!
—Preciso me segurar, não é, meu amigo? E ainda me deve aquele sonho, o tal da siesta sob a árvore. Que, pelo jeito, ainda nem haviam inventado o celular.
—Sapabela, que privilégio ter a sua amizade.
—Eu sei, Rospo. E você para mim é o melhor sapo do brejo. Só que às vezes precisa de uns reparos, uns retoques. E então, Sapabela na área.
—Com você, eu ainda chego lá.
—Dependendo do "lá", é você sozinho quem tem que chegar.
—Eu sei, Sapabela. E sozinho, vou entrar.
—Quem falou em entrar?
—Sapabela, só mais uma coisinha.
—Pode dizer.
—Deve haver algum tipo de censura entre um sapo e uma sapa?
—Rospo, claro que não! A única coisa que deve haver é respeito, profundo respeito.
—Mas tem cada fantasia! Cada pensamento!
—Ainda bem, pois a vida é um encanto, e como diria um amigo meu: Iupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Sapabela, você fez bem. Andou treinando?
—Nunca treino nada, Rospo. Vou caminhando junto, e quando menos se espera, aprendemos.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 716

Marciano Vasques

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