sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

FALANDO DE ÉTICA

—Rospo! Sexta-feira!
—Yupiiiiii!
—Já sei, sabadoficando.
—Sababela, fui dormir pensando na nossa conversa de ontem, e já que você perguntou...
—Eu perguntei?
—Verdade. Às vezes imagino perguntas. Sendo assim, deixe-me responder: Sim, sou um sapo progressista conservador.
—Rospo, uma coisa é oposta da outra.
—Nem tanto.
—Diga.
—Sou progressista por ser adepto do progresso, inclusive e principalmente nas ideias. Ser progressista nas ideias, no pensamento, é a maneira de homenagear os filósofos.
—Que você é progressista nas ideias é veramente inconteste. Mas, ser conservador. Isso lá entendo eu?
—Conservador tem o sentido de conservar. No caso, não é uma conservadoria estática. O que merece ser conservado tem que ser incentivado.
—Entendi.
—Rápido assim?
—Sapabela em ritmo de sexta.
—Veja só: os valores fundamentais, de fundamento, de fundação do ser, precisam ser conservados. Valores como a ética...
—A moral?
—Não estou me referindo à religião, Sapabela. Eu disse "Ética", que é diferente de moral. Ética se refere à valores e ideias universais que regem a vida de cada um. Quando você compartilha a ética, quando a incorpora, salva o seu coração.
—O que pode a ética contemplar?
—O respeito pelo outro, o amor, a lealdade...
—Que mais?
—A sinceridade, a certeza de que não está prejudicando alguém. Quando a ética é assimilada pela alma de  um sapo, ela se alarga, pois a sua "natureza" é de expansão universal. Ao ser ético, a tendência é ser profundamente ético. Isso o coloca, quer dizer, põe o sapo em contato com a força universal que permeia os relacionamentos e a edificação de mundos. A ética, como força universal, vale em qualquer parte do mundo. Em todas as europas, áfricas, e américas. Ofender uma criança, por exemplo, é questão ética de gravidade em qualquer lugar.
—A ética inclui o amor pelos animais?
—Sim, Sapabela. O fato de alguém viver sob a cultura cristã e ocidentalmente adorar comer carne, a ponto da insensatez de ficar em fila de açougue mesmo quando o preço da carne está abusivo, não o credencia para abandonar um cão, ou maltratá-lo. Sua ética tem que ser completa. Não pode ser imperfeita.
—Rospo, quando alguém critica a roupa de uma sapa, por exemplo, por ela estar alterando os bons costumes, isso faz parte da ética?
—Não, isso nada tem a ver com a ética. Não está, portanto, no plano filosófico. Tal coisa tem tudo a ver com moral, e moral, bem sabe, originalmente vem da religião. A roupa de uma sapa é uma questão dela. Assim como o seu corpo. Seu gosto, suas cores,  seu corpo: nada disso é propriedade da sociedade, nem do espírito de porco.
—Espírito de porco?
—Às vezes, só para azucrinar, assim me refiro ao espírito da época.
—Rospo, entendi. Então, as coisas que ensinam às meninas: de comportar-se de tal forma que sempre demonstre submissão, isso está fora do eixo do campo da ética?
—Sim, é pura moral. E moral sempre está a serviço de poderosos. Ela existe, é construída, para manter algum poder. Uma de suas vítimas através dos tempos é a sapa. No caso, o objetivo primordial é garantir a suposta supremacia do patriarca. "O sapo varonil é superior".
—Rospo, o Sapo só é superior na força física. Ainda bem. Mesmo assim, se preciso for, para defender a justiça e a liberdade, até voo no pescoço de alguém.
—Bem, Sapabela. Amanhã é sábado: temos o concerto.
—Só?
—Como assim, só?
—E o sorvete? A conversa na fila?O abraço do encontro?
—Sapabela, você sabadofica a minha vida.
—Tenho um tempo que me ocupo lendo, e fazendo as coisas caseiras, e me dedicando ao meu projeto de vida, mas tenho um tempo que é livre, e por ele tenho um carinho especial. Se perdê-lo vendo programação infrutifera na TV, estarei traíndo a generosidade da vida para comigo. Porém, para ser ética com esse meu tempo, pouco, mas meu, prefiro estar com você, ouvindo e falando com meu amigo progressista e conservador.
—Sapabela, me deixa sem... Já sei, eu não tomo jeito.
—Mas toma sorvete. Que tal?
—Você está convidando?
—Algum problema, Rospo? Lembre-se da moral.
—Nenhum problema, Sapabela. Ao contrário, convide-me sempre que eu bobear. Somos amigos, e sorvete não distingue o convite.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 724
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Sim amigo, Se precisamos matar nossos animais para nos alimentar!?Vai além da moral e dogmas religiosos, discernimento e respeito a vida de todos os seres, ética universa!
    Luz
    Ana

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