terça-feira, 13 de dezembro de 2011

LIVRO DE OURO

 DO LIVRO DE OURO DOS TESOUROS DE SANTOS


Quando você vai para Santos, assim que desce a serra, passa por Cubatão. No trajeto até a cidade brilhante, passa sobre um rio chamado Casqueiro. Um homem
carregava em seus ombros já sangrando uma pedra; estava erguendo uma casa de pedras sobre o rio, onde nasceria um mar cor de ciano, que é a cor das nove da manhã, no céu. Santos é a princesa das lendas, os santistas não sabem. A juventude caminha ao sol, e nem se toca que o povo amoroso da cidade de Pagu, povo que diz sempre "Tu", já andou contando algumas histórias preciosas.
Tem uma flor imensa que pouquíssimas pessoas já viram, entre elas, um maquinista, no sol escaldante na hora da troca das locomotivas, quando os vagões passariam a ser puxados pelos cabos de aço. Também alguém que descia pelas curvas da estrada velha; e a avó Conceição e o avô Pedro, pessoas que morreram em Suzano, e que jamais subiram a serra por completo. E ainda o tio Germano, mas, como sabem, quem conta um conto aumenta o encanto.  Andaram dizendo nas mesas de bilhar, nas docas, nos portos, na pedra branca, nos canais, e na areia, que a flor imensa na boca da serra, segundo alguns, no seio da serra, segundo outros, ou ainda, no colo da serra, essa flor é a menina chamada Rosema Branca, que algo muito triste aconteceu com ela.
Quando a cidade se alvoroçou procurando pela menina, uma lenda se agitava no ventre da oralidade popular, uma lenda prestes a nascer.
Quem passa hoje por essas vilas que beiram os trilhos abandonados, nem sequer pode imaginar as índias laçadas e aprisionadas nos fundos dos quintais, até aprenderem o idioma da mãe pátria, e o costume da servidão. Mal pode ainda pensar que menina se transforma em flor.


MARCIANO VASQUES

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