quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SAPABELA VAI AO CONCERTO

—Rospo? Um pouco chateado?
—É...
—O que o incomoda? Algum serpentário? No ambiente de trabalho, por acaso?
—Está tudo bem, Sapabela.
—Sendo assim, fico tranquila. Não se chateie, por favor. Nem é casado!
—Sapabela, anda muito brincalhona, mas não generalize, por favor. Sabe que tem milhões de sapos  plenamente felizes no casamento...
—Milhões? Como estou desatualizada! Está vendo, Rospo? Sou assim mesma. Toda estardalhaçada. Tipo alarido de crianças.
—Uma algazarra ambulante.
—Pois é, mas como vivo dizendo: minhas roupas não combinam, sou atrapalhada. Se organizar demais, me perco toda, porém, além de tudo, vivo desatualizada. Milhões de sapos engaiolados, perdão, casados, e eu nem havia notado. Preciso ser mais atenciosa.
—Pronto! Ela tirou o dia.
—Rospo!
—Diga, ainda estou aqui. Não precisa tanto desespero.
—Pronto! Deu o troco.
—Diga, meu bem.
—Adoçou! Primeiro o fel, depois o adoçante.
—Pode ser atrapalhada, mas cuida bem do requisito essencial.
—Do que está falando, amigo?
— A tão preciosa vaidade. Seu esmalte, de um lilás timidamente insinuante. O implacável vestidinho amarelo.
—Gostou dele? Sei que dirá que é de tirar. Mas acontece que...
—Já sei! É que não apareceu o sapo com tal merecimento. Não precisa repetir isso. E tem algo: além de atrapalhada, não consegue observar as coisas direito, às vezes.
—Dê um exemplo, meu querido.
—O sapo do merecimento.
—Não entendi.
—Sapabela, conheço a sua vivacidade fêmea, mas finjo que não percebo que está me levando a dizer que talvez o sapo do merecimento já exista.
—É mesmo, Rospo? Onde estará ele? Preciso ser conquistada. Acordei, neste ensolarado sábado, querendo ser conquistada. Que venham todos os poemas! Todas as palavras amenas, todas as gentilezas, as ternuras, todo o teatro primordial.
—Sapabela, está bem. Tirou mesmo o dia para se divertir. Mas ouça só: Em primeiro lugar hoje não é sábado, é quinta.
—Tem diferença para um coração igual ao meu?
—Em segundo lugar...
—Rospo, não fique muito metódico. Assim perde a graça.
—Engraçadinha... Pois em segundo lugar,  já foi conquistada.
—Sinto um drops de convencimento.
—É segurança, minha cara.
—Sei que já fui conquistada pela poesia mais pura e universal, pelas palavras que trazem a voz do vento, pela literatura e pelas artes, pela amizade e pelo querer que a vida exala, pela sinceridade e pelo azul do céu, pela... Rospo, quer parar com esse olhar bobo?
—Ficou desconcertada, Sapabela? Se isso aconteceu, tem um concerto no sábado, no Teatro lá da Paulista.
—Aceito!
—Ela não tem jeito!
—Rospo, vamos chegar cedo, adoro ficar bem próxima do palco.
—Minha querida, preciso ir, pois ainda cumpro horário.
—A vida não é plenamente justa.
—O que disse?
—Que vou cantarolar em rodopios de girassóis, que estou tão feliz, que vou me esmaltar de cor maravilha discreta, pois a Sapa sempre tem que ser discreta, que é para o olhar do conquistador alcançar.
—Sapabela, você já consertou o meu coração hoje. E acredite, quando se tem alguém desconcertado, um concerto já ganha o dia, já ganha o sábado.
—Nada como um amigo.
—Tchau, e seja bem-linda em meu Facebook.
—Não é bem-linda, Rospo! É bem-vinda, e por enquanto, Sapabela está fora do Facebook. Até sábado, que já me sabadofiquei só de pensar nesse concerto. Isso é que saber consertar!
—Tchau, querida. Esmalte discreto, vestidinho não precisa ser tão discreto...
—Rospo, o concerto, entendeu? O concerto! Concentre-se no concerto.
—Assim me deixa sem jeito.
—Como posso deixar sem jeito quem não toma jeito?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 722
Marciano Vasques

2 comentários:

  1. ¡Oh!, que guapa asistirá Sapabela al concierto.
    Tan elegante y discreta
    A mi también me gusta llegar puntual.
    Un abrazo para Marciano y familia, Montserrat

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  2. O Rospo não toma jeito, ele tem a arte da seduçaõ e a Sapabela percebe e adora.Lindo os dois!
    Luz
    Ana

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