segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A TERRÍVEL CRIATURA

—Sapabela! Sapabela!
—Rospo! Pare de escândalo! Está agitando os braços. O que aconteceu?
—Fuja, Sapabela! Fuja!
—Pronto, Rospo, já estou fugindo com você, só nós correndo na calçada. Todos estão olhando, perplexos. Posso saber o motivo da fuja? Seria por acaso uma invasão de marcianos?
—Ela vem vindo, Sapabela! Ela é terrível, gosmenta, vem babando sangue, asquerosa.
—Que horror, Rospo! Mas quem é ela? Não estou vendo nada, não vejo ninguém.
—É sempre assim, Sapabela. Finge que é invisível, mas, acredite, é monstruosa, horrível.
—Rospo, estou ficando com medo. Devo continuar fugindo?
—Sempre, Sapabela. Jamais deixe que ela chegue até você.
—Seja ela quem for, eu prefiro encará-la. Sapabela não aprendeu a fugir. E pelo que sei, você também é assim. Aliás, tudo que o amedronta você enfrenta.  Então, meu Rospinho, vamos acabar com esse alarido todo? Seja quem for essa "Ela", não irá me pegar.
—Sei disso, Sapabela. Estava apenas fazendo um teatro invisível.
—Boal, meu caro amigo! Mas, diga-me: quem é Ela afinal?
—A criatura da indiferença.
—Tem razão, Rospo, ela é assustadora, é horrível. Pior que existe sim. Mas fugir dela não é a solução. O que devemos fazer é encará-la de frente, enfrentá-la de vez.  Se possível for, devemos fazer com que desapareça.
—É de fato a pior criatura que existe na face da Terra.
—Ainda bem que é na face, e não no face.
—Sem ironias, Sapabela. Deveríamos todos, num esforço conjunto, expulsar da cidade, para sempre, a criatura da indiferença.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 735

Marciano Vasques


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