domingo, 15 de janeiro de 2012

NO EMBALO NA MANHÃ DE DOMINGO

—Rospo, hoje é domingo!
—Yupiii!
—Meus ouvidos, Rospo!
—Desculpe. Empolguei-me. Despertar num domingo de Janeiro com o telefone e quando atendo é você. Que alegria!
—Que tal um café expresso lá na cafeteria da praça?
—Já indo!
—A família ainda dorme, é o momento certo. Vamos ao nosso café expresso e ainda trago pão.
—Já estou no portão. É questão de Zás - Trás!
—Rospo! Num instante estou aí.
—Virá de carro?
—Domingo de Janeiro? Carro? Vou a pé, meu querido!
—Espero.  Então, faz assim: vou caminhando na sua direção e nos encontraremos no meio do caminho.
****
 —Rospo!
—Querida, um abraço!
—Pronto, Rospo, já me abraçou. Rospo? Rospo?
—Sapabela, estou tão feliz com essa sua ideia de um café expresso na praça.
—De vez em quando é bom.
—E então, está animado com o lindão?
—Sim, antevejo 2012 abraços e algumas boas conquistas.
—Também penso que será um bom ano. Seria bom se a profecia profetizasse o fim da tristeza no mundo.
—Ainda precisa muita evolução, Rospo. A alegria é resultado principal da evolução. Quanto mais evolução, mais possibilidades de a humanidade dos sapos viver o apogeu da alegria, que é o sinal de que a felicidade  ronda.
—Sapabela. Sapo evoluído é mais feliz?
—Sim, desde que a sua evolução amplie o seu olhar, direcionando-o para a simplicidade da vida.
—Evolução não é o contrário da simplicidade?
—Claro que não! Evolução é capacitação do olhar, é aprimoramento, para que ele possa contemplar com mais nitidez, mais claridade, a simplicidade, que é a residência da alegria: essa súbita manifestação da felicidade quando quer adentrar no espírito do sapo.
—Simplicidade seria uma necessidade de aprofundamento, de aprimoramento da coisa em si?
—Não! O que é simples está entrelaçado num emaranhado de complexidades que não interessam ao olhar imediato.
—Pode esclarecer um pouquinho?
—Ora, Rospo! A flor que desabrocha, o sorriso da criança, a sapinha crescendo e seu rostinho traduzindo novas belezas, a amizade sincera...O sol nascendo, a chegada do anoitecer, um beijo na boca da noite, um acalanto, uma palavra terna de analgésico para a alma...Uma caminhada na calçada, a chuva que retorna, os anterozóides, a...
—Entendi, Sapabela. o que é simples não tem jeito. Que tal hoje um filme, em casa mesmo? Um bolo de cenoura...
—Quem faz o bolo, Rospo?
—Faremos, Sapabela.
—Bravo!
—Trago as cenouras, e o açúcar.
—Danadinho. Eu faço sim, gosto de fazer bolo de cenoura. Mas, qual o filme?
—Depois escolheremos. Sapabela, chegamos à cafeteria. Sinta o aroma no ar.
—Rospo. Sinta também o aroma do pão que vem da padaria ao lado.
—Veja as sapas que passam, a cadência do andar.
—Veja os sapos, alguns parecem pensativos. Outros, tão distraídos.
—Obrigado pelo convite, Sapabela.
—Estar com você é tecer o domingo, meu caro amigo.
—Yupiii!
—Aconteceu alguma coisa?
—Não, seu balconista. Às vezes, ele fica assim eufórico.
—Está acontecendo, meu amigo. O domingo está acontecendo. Vê?




HISTÓRIAS DO ROSPO  2012 —  764
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. A simplicidade em palavras nos transporta para esse conto de encantamento, onde a beleza do que é genuino faz toda a diferença.

    Um abraço Marciano Vasques
    cvb

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