sábado, 7 de abril de 2012

CONTEMPLANDO AS ESTRELAS

—Que pensamento o aflige, meu amigo?
—Nem havia reparado a sua chegada.

—Eu sei, estava concentrado olhando as estrelas. Seu semblante me pareceu preocupado. Algo aconteceu, meu querido? Se está pensativo, fico ansiosa, se está triste vou fazer de tudo para não chorar. A tristeza não nos serve.
—Sapabela, ainda bem que você chegou.
—Eu sempre chego.
—Você é a alegria da vida.
—Mas me pareceu aflito. Posso saber o motivo da sua angústia?
—Essa imensidão me assusta.
—Isso é Pascal, não é?
—Às vezes penso que cada estrela é um espírito encantado da Filosofia que está a nos piscar.
—Não só da Filosofia, Rospo. Aquela bem brilhante deve ser o Andersen.
—Fico a pensar, Sapabela, foram necessárias  tantas vidas para que pudéssemos estar aqui, nesta noite, na Praça Azul contemplando as estrelas, com a nossa consciência e nossa alegria.
—E também nossas aflições, não é, meu amigo?
—Tantas vidas!
—Giordano Bruno morreu queimado na fogueira.
—Sapabela, seria bom se todas as crianças pudessem ter acesso ao pensamento de cada filósofo, claro que numa linguagem apropriada para elas.
—Já existem projetos para o ensino da Filosofia na Educação, Rospo.
—É verdade.
—Mas não ficou clara  a sua aflição.
—A imensidão assusta.
—Já disse isso.
—Sinto a necessidade de abraçar alguém. É curiosa essa necessidade. Quando você abraça alguém, fortemente, é como se as suas angústias desaparecessem. É como se uma corrente, um feixe de energia circulasse entre os corpos. Parece que há um choque, uma colisão, um entrelaçamento de energia. Terá algo mais terapêutico do que um abraço?
—Quando terá havido o primeiro abraço? Em que momento um sapo e uma sapa compreenderam que deveriam se abraçar?
—Sei não, mas nesse momento a humanidade dos sapos deu um salto gigantesco.
—Quando terá sido a primeira vez?
—Que primeira vez?
—Que um sapo e uma sapa se olharam de frente e compreenderam que... que deveriam se amar. Talvez tenha sido no momento em que das águas espumosas ela emergiu, brilhante em seu manto azul, radiante, esplendorosa.
—Ela quem?
—Afrodite.
—Tem razão, a Filosofia e a Mitologia são irmãs.
—De certa forma, podemos dizer isso.
—Sapabela, você foi contagiada pela imensidão das estrelas.
—Estou conquistada de Filosofia, Rospo.
—Então, fique aqui um pouco mais.
—Com uma condição.
—Qual, Sapabela?
—Abrace-me.


Os casais que passam pela Praça Azul observam os dois amigos abraçados.


—Obrigado por estar abraçada em mim.
—Somos amigos, Rospo, somos amigos.
—Aquela mais brilhante, quem será?
—Sei não, pelo brilho intenso, talvez Espinosa.




HISTÓRIAS DO ROSPO 2012  —778


Marciano Vasques

3 comentários:

  1. Espinoza, filosofia, estrelas, mitologia, contos de fada, Sapabela, Rospo,Casa Azul...O Outro lado, o belo encanto da vida...Luz
    Ana

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  2. Hola Marciano.
    Queridos Rospo e Sapabela, que bien si cada estrella tuviera nombre de escritor o escritora.
    hoy estáis muy filósofos.
    Sabéis a lo mejor si tuviera que reencarnarme quizá escogería ser una ranita para conoceros.
    Um beijo para los dos.
    Sóis dos personajes encantadores.
    Ah, decirle a Marciano que he compartido un premio con el en mi blog.
    Beijos, Montserrat

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