quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SOBRE OS ATRIBUTOS DO AMOR


A CONVERSA ESTÁ SÓ COMEÇANDO
(Sobre os atributos do amor)


— Rospo, qual é o mais egoísta dos sentimentos?
— É o amor entre um sapo e uma sapa...
— Tem certeza?
— Além disso...
— Tem mais?
—Sim. É o mais exigente.
— É mesmo?
— Diferente do amor materno e do fraterno, ele exige fidelidade, doação, que são atributos naturais dos outros amores, como o materno, por exemplo, que nada exige para si, mas ama o filho integralmente, de forma incondicional...
— É muito exigente o amor entre sapos e sapas?
— Sim, pois ele é um tipo de amor que depende do outro...
— É um amor que envolve e necessita do outro para se completar, e se concretizar?
— Sim, o materno não depende do outro. A mãe geralmente ama o filho de forma absoluta, mesmo que ele seja o pior filho do mundo...
— Por depender do outro, o amor entre sapos e sapas  é frágil?
— Ao contrário, é uma força motriz. Na sua fragilidade está a sua fortaleza...
— Isso merece outra conversa. Vamos continuar amanhã?
— Claro, o amor não se encerra numa conversa.
— ?

No dia seguinte:

—Sapabela! Sempre joia?
—Sempre joia. Vamos continuar aquela conversa de ontem? Você dizia da fortaleza do amor entre um sapo e uma sapa... Isso existe ainda além de seu tórax de bolero, amigo?
—Sapabela, converso melhor com...
—Eu também! Adoro licor de anis... Vamos até a Padaria Rubi?
—Já indo. Veja como está linda a Praça Luar Azul...
—Linda mesmo. Vamos “na conversa”.
—Pois é, o amor entre o sapo e a sapa é exigente, mas são exigências elementares, simples, fundamentais...
—Certamente seriam exigências femininas, como a fidelidade?
—A fidelidade é atributo primordial e natural... Nem deve entrar no rol das exigências... Ela pressupõe algo que antecede qualquer florescimento de amor...
—Diga.
—A confiança.
—Sim, isso é verdade... A confiança deve pautar absoluta e naturalmente todos os relacionamentos. Não apenas o amor, mas também a amizade. Veja bem. Pode imaginar dois amigos sem que entre eles reine absoluta a confiança?
—Sem o reinado absoluto da confiança? É difícil imaginar...
—No Facebook ou na vida real?
—Minha querida amiga provocadora. Estou falando de amizades... Não importa se virtual ou real...
—Real tem uma vantagem... O toque...
—Virtual também pode ter o toque através de palavras cariciosas... amorosas... Você pode, se quiser, levar consigo a doçura da alma de alguém através dos verbos... das frases, das palavras... Você pode tocar em alguém com a poesia...
—Concordo, às vezes as palavras expressam sentimentos autênticos. Às vezes elas traduzem o rosto da alma de alguém... Mas, vamos voltar ao amor.
—Pois bem: fidelidade e confiança são atributos do amor. São os atributos primordiais... Sem eles não tem chance, o broto não se abre e não há florescimento,  nem sequer uma inflorescência... Depois, virão os outros atributos, entre os quais, a atenção e o zelo.
—Fale deles.
—De certa forma, no geral, eles se dissolvem na aspereza do cotidiano.  Quando o esmero para com o outro deixa de ser prioridade, a atenção aos poucos de esvai, e o zelo vai se enfraquecendo, até que os laços afrouxados contaminam o amor com ausências, ressentimentos, palavras requentadas, sem requintes...
—Rospo, já conhecemos então quatro atributos, que pela ordem os memorizei: fidelidade, confiança, atenção e zelo.
—Sim, o primeiro atributo é essencial em qualquer relacionamento, como já disse, ... assim como você tem que cultivar a fidelidade para com as coisas que ama, por mais simples que sejam, mas que são suas, pelo amor, como aquela flor que viu e a ela se apegou vida afora, como um gibi que leu, como a vidraça da janela numa alvorada ensolarada...
—E a confiança quebrada torna o amor insustentável, aliás, sem ela, ou com ela partida o amor nem mais pode ser almejado... Ela não é reciclável... Acabou, foi-se...
—Sapabela, que gostosura de conversa!
—Sinto que a conversa está só começando, meu amigo. E falando em gostosura, vamos ao nosso licor de anis, que a padaria Rubi chegou.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012    —824
Marciano Vasques

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